21 agosto 2021

Menu-lunação: LEÃO

 Jardinière do Abopuru

Caçarolinha de cogú

Maní-festo

Sagú de cajú

Pé de moleque



        Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de

todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

        Tupi, or not tupi that is the question.[1]

              

               

                  Tem início a ofuscante lunação de Leão. Na casa 10, a casa mais alta, mais visível, no próprio signo do Sol. 

                Sob o Sol quase a pino, praticamente não há sombra, tudo se mostra. Quase tudo. Como nota o Simba pimpolho em O Rei Leão: e aquele lugar escuro lá?

                Aquele lugar escuro lá é de Saturno, aquele que lembra que não, a gente não pode fazer tudo o que quiser. No mapa da lunação o embate é frontal: Sol em seu domicílio Leão, Saturno em seu domicílio Aquário. O rei deve ser servo de seu povo. Jacaré quer descer do salto? Nem o rei.

                Ao mesmo tempo, porque os símbolos se bifurcam (no mínimo) e se tramam, o Saturno na casa 4 reforça o que é mesmo da sua alçada: as estruturas. A casa 4 é a fundação do mapa — seja dum mapa de lunação, seja do mapa natal — é onde estão as raízes, que dão sustentação ao reino.

                Com os luminares em Leão está Mercúrio, sempre próximo do monarca, às vezes próximo demais, a ponto de ficar tostado e até descontrolado no desempenho das suas funções, mas não desta vez! Mercúrio tomou a frente e já se afastou 13 graus e logo não estará sob os raios do Sol.

                O maior incômodo de Mercúrio nesta lunação será a oposição a Júpiter. Mercúrio seguro de si, empolgado, criativo, que brada aos ventos a alegria dos que não sabem e descobrem [2], tolhido pelo “avô de todo conhecimento”[3], que é Júpiter em um signo fixo de Saturno.

                A oposição que vemos é tão forte, entre planetas domiciliados e em casas angulares, que desta vez nem entramos no mapa pelo Ascendente. Também pudera, o ponto onde a terra encontra o Céu no segundo grau de Escorpião. Seu regente, Marte, está em Virgem, sem aspectos com os planetas em Leão e tão pouco com os de Aquário.

                Escorpião não se mostra à toa e Virgem também prima pela discrição. Por sextil Marte rege, vê e guarda o Ascendente. Com as ideias, com o constante aperfeiçoamento da camuflagem, guarda a sete chaves e ferrões o núcleo puro do Ascendente. 

                Marte e Vênus, dispostos por Mercúrio em Leão, também têm outro interesse: buscar e pensar a identidade, saber mais sobre esse núcleo puro. 

                No mapa da lunação, calculado para Brasília, a identidade buscada vem a ser a do Brasil.


                Mercúrio, investigador porém fixo, quer afirmar que o brasileiro é. Ponto. Verbo intransitivo. Mas ele não pode, porque não se pode ignorar a oposição de Júpiter e Saturno. Estes grandes lembram que o Brasil é formado por tanta gente que veio de fora, somadas ainda às pessoas que cá já estavam. E que o Brasil é tão grande que mesmo as pessoas que cá estavam são de grupos muito diferentes entre si[4] . Que foram misturadas aos que cá chegaram, e que a todos foi imposta uma cultura específica que veio de fora. Essa cultura não fica purinha, porque cada um, grupo ou indivíduo, traz em si a sua casa 4 de ancestralidades, de afetos que moldam preferências, e isso acaba temperando a cultura imposta. O resultado disso são muitos resultados. 

                E agora, Mercúrio?

                No começo do século 20 o sociólogo Gilberto Freyre abordou essa questão dividindo o Brasil em regiões bem definidas. Até hoje, se a gente pensa em cozinha brasileira, pensa no plural. A gente ouve aqui no sul nomes de frutas que nunca vimos nem sonhamos que existam. Que existe a comida do Norte, do Centro-Oeste, do Nordeste, do Sudeste e do Sul. Cada uma com sua personalidade bem definida. Mas não é o que Mercúrio procura. Mercúrio em Leão busca uma unidade que dê conta de uma identidade bra-si-lei-ra. Então ele sopra nos ouvidos de algumas pessoas: Mário, Oswald, Tarsila… atiça-os em curiosidades, coloca asinhas em seus pés. Marte ajuda, os instiga a prestar atenção aos movimentos cotidianos, quase invisíveis; Marte deixa claro que nada é desimportante: as cores, as mesas, as palavras, os ritmos das frases. E lá vão eles, empreender viagens ao interior do país, para sentir o cheiro do que realmente o Brasil é feito. É assim que eles encontram Júpiter e Saturno retrógrados na casa 4 e, num primeiro momento, os artistas se curvam a eles. Os viajantes buscavam no interior registros de um desenvolvimento que mostrava um passado que eles consideravam puro. A cultura popular, além de fonte, se torna patrimônio.


BLAISE MERCÚRIO

                Me veio aqui se Mercúrio não encarnou a personagem Blaise Cendrars, alguém que olha de fora (não-brasileiro) e de dentro (apaixonado pela cultura brasileira). Eis o que escreveu Mario de Andrade em 1939:

                “Quem me chamou uma atenção mais estudiosa para a cozinha brasileira foi, uns quinze anos atrás, o poeta Blaise Cendrars. Naquele seu jeito de dizer com leveza coisas profundas, desde que teve conhecimento dos nossos pratos principais, o criador de Moravagine passou a sustentar a tese de que o Brasil tinha civilização própria (ou melhor: teria se quisesse) pois que apresentava uma culinária completa e específica. Sem ponto de vista doutrinário, despreocupado dos problemas da alimentação e do seu valor constitucional, era como viajante de todas as terras que Blaise Cendrars falava. A tese lhe vinha da própria experiência, e o poeta afirmava que jamais encontrara povo com cozinha própria que não tivesse civilização própria. Pouco lhe importava que a maioria dos nossos pratos derivassem de outros vindos da África, da Ásia ou da península ibérica. Quase todos os povos são imensas misturas étnicas e culturais. O importante é que fundindo bases, princípios constitucionais de pratos asiáticos e condimentação africana, modificando neste ou naquele sentido pratos ibéricos, tínhamos chegado a uma cozinha original e inconfundível. E completa.”[5]                

Cendras por Modgliani
           


PÉ DE MOLEQUE

                Para unificar essa verdadeira colcha de retalhos, a solução proposta pelos nossos áureos representantes de Mercúrio foi a deglutição. Que é coisa que a gente faz, individualmente: toda cultura que me chega, que te chega, é digerida — ou passa por um filtro, como é comum dizer em uma imagem menos orgânica — e uma parte é incorporada, alguma é modificada, outra é evacuada. É por isso que ninguém lê o mesmo livro. O efeito de cada parágrafo sobre mim é diferente do mesmo sobre você. Ou aquela ideia antiga: o homem não se banha duas vezes no mesmo rio (porque o homem não é mais o mesmo, e o rio não é mais o mesmo).

                Achei bem bonito ver essas duas imagens juntas agora porque, se o rio não é o mesmo pois as águas mudam, o livro também, já que as palavras fixadas ali ganham outro sentido nas correntezas das culturas.

                “Só a ANTROPOFAGIA nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. 

                Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.”[6]

                O trecho “Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos” abarca o Leão e o Aquário. Estamos no caminho certo. 

                Mas, como fazer essa deglutição coletivamente, nesse país de tantas culturas e tantos alqueires?

                A Viviane Aguiar[7] resumiu a proposta modernista:

Pesquisar, coletar e registrar as tradições brasileiras: buscar o povo.

                E isso é trazido de volta para os luminares e Mercúrio em Leão:

Elaborar, “tradicionalizar”, “estilizar”: construir uma cultura erudita brasileira, em que a cultura popular serve de fonte e de patrimônio, compreender e interpretar o Brasil.

                A alguém cabe elaborar, estilizar e tradicionalizar o que foi coletado no contato com o povo, portanto a questão é puxada de volta para a centralização leonina, lá na casa 10, uma casa de visibilidade e no signo do ouro — prestígio e riqueza. A tarefa, mostra a história, foi tratada por vezes no restaurante do Hotel Terminus e outros estabelecimentos de finesse, e o caldeirão onde cozinhavam essas ideias teve seu momento no Teatro Municipal de São Paulo, com a Semana de Arte Moderna de 1922


MODO DE FAZER

                No Manifesto Antropófago Oswald de Andrade expõe o método: a incorporação do outro. 

                O “outro” é significado pelo regente da casa 7 (ou planetas que ali estejam), enquanto o “eu” (eu-nativo, eu-nação, eu-consulente, dependendo do tipo do mapa) está na casa 1.

                O outro de um mapa natal é aquele que espelha o nativo: um amigo próximo, um crush, um sócio, um inimigo declarado. As casas 1 e 7 sempre estão em oposição, os regentes podem ocupar qualquer lugar do mapa. O mapa da lunação, que ascende com o signo de Escorpião, tem Marte como regente da casa 1. O signo oposto a Escorpião é Touro, e sua regente é Vênus[8]

                Marte e Vênus estão em Virgem, na casa 11 do mapa. Essa casa também trata de coletividade: grupos de amigos, grupos de interesses comuns, grupos sociais. Aqui, Marte e Vênus são dispostos e incentivados por Blaise-Mercúrio, e pode-se ver Marte partindo para suas expedições antropofágicas, munido de curiosidade, potência, caneta, olhar acurado, conhecimento prévio, em direção à Vênus que foge dele, que está em queda, sem dignidade, mas é mais rápida e Marte não consegue subjugá-la completamente. Vênus em Virgem, assim como essas populações visitadas, observadas e perguntadas, continuou e continua a cuidar dos seus afazeres, os de cada dia, repetidos, com modéstia, a cada repetição uma mudancinha, mínima, enquanto se torna ingrediente nos palacetes paulistanos de casa 10.

                

PIED DE GARÇON

                O mapa da lunação, marcado pela forte oposição Leão-Aquário apresenta essa tensão. O Sol-Leão devorador bate de frente ao Saturno-Aquário que não serve a um rei, nem a uma rainha, e que escancara que dinastias inteiras e todos os tipos de patrioteiros serão um dia devorados pelo Tempo.

                Não só o Brasil dos interiores são ingredientes da antropofagia modernista, mas também o colonizador. Repara que bonito agora o Sol-Leão se transformando em Saturno-Aquário: inverte-se o sentido da colonização: o colonizador é devorado. Os colonizadores de outrora, que impuseram suas línguas, sua religião, abusaram da força física, mas também os colonizadores de então, com suas influências papagaiadas por aqui: modas, filosofias, maneiras de bem-comer. Até a língua. O cardápio que segue faz parte da coleção de cardápios de Mário de Andrade. Preparos trazidos da gastronomia francesa e apresentados inclusive em grafia francesa.[9]





                Mais um exemplo do colonialismo da época é o livro Cozinheiro Nacional, que usamos no Memorial Saturnino, cuja operação, tão simples, é a substituição de ingredientes europeus por similares brasileiros, mas a técnica é exatamente a da culinária francesa da época.
                “O aspecto mais notável de Cozinheiro Nacional é que, enquanto procura transliterar os ingredientes nacionais (animais e vegetais) para o esquema rígido de uma culinária em tudo francesa; enquanto é quase uma obra de ficção, visto que as suas receitas eram adaptações imaginativas e não uma coletânea de receitas vivas ou praticáveis (salvo raras exceções).” [10]

        

ANTROPOFAGIA
                
                O que é devorar? 
                “Oswald propõe ritualizar e escancarar: ‘a vida é devoração pura’”[11]
                É assumir que se é colonizado, é escancarar toda essa influência, é colocar o holofote na cultura discreta do interior, nas paredes cor de terra, nas trovas populares, no folclore, é colocar isso tudo tudo num grande caldeirão (macarronada ou feijoada, livro ou filme) e, por fim, digerir. Esse é um trabalho que os planetas em Virgem sabem fazer muito bem: analisar, discriminar, incorporar uma parte, evacuar outra.
                E escrever, e se expressar. Os modernistas propunham a expressão. Afinal, como dito por Casé Angatu, antropofagia é relacionamento.[12]

                “Tratava-se, no dizer do poeta Jorge de Lima, de empreender um grande esforço de “achamento”, isto é, de abandonarmos a maneira bocó de nos vermos, como se fôssemos europeus ou estrangeiros em nossa própria terra, e ‘acharmos a nossa expressão’. O problema da cultura nacional, para os modernistas, era de ‘expressão’”. [13]

                

AS COMIDAS QUE NOS DEVORAM 

                “Crônica 21 de dezembro
                
                O caju é doce, é alimentício, medicinal e possui o gosto caju, coisa indescritível e unicamente compreendida por quem conhece o caju de vias-de-fato. Abacaxi, manga, abricó, pinha, maracujá, sapota, grumixama etc. no geral todas as frutas são muito dadas. Se entregam por demais. Caju não: o prazer singular dele está na interfagia, me desculpem, de intrecomilança, específico no gosto dele. Ele morde a boca da gente, vai nos devorando por dentro.” [14]

                Além do cajú, o azeite de dendê nos devora. Indomáveis!

                “O efó preparado à baiana, com muita pimenta e diluído no azeite de dendê, é tão brutalmente delirante que nem somos nós que o comemos, ele é que nos devora. A primeira vez que ingeri uma colherada de efó, a impressão exata que tive foi essa, de estar sendo devorado por dentro.”



MENU
                
                A gente não vai fazer efó, mas sim caçarolinha de cogú: brutalmente delirante em um inesperado miraculoso tanto quanto.
                O cogumelo, devorador, deve ser respeitado. Não se come essa criatura assim de qualquer jeito, e nem todos os cogús devem ser ingeridos. Olha esse ascendente e não queira arriscar por favor. Vá ao mercado e compre uma porção de shimeji ou algum outro assim mais durinho, resistente à mordida e que não se desmanche em água com o calor.
                Com a caçarolinha exuberante, a gente puxa da casa 4 a raiz Maní, filhinha da mandioca. Mandioca, sal, um fio de óleo e só. Em bijú ou numa fritadinha. Minha sugestão para esta lunação é um desses dois preparos mais sequinhos e crocantes. Apesar do Ascendente em signo de água, o mapa tende para a secura.
                Para colorir, uma jardineira de cores do Abaporu. Se possível, finalize com PANCs, em devoção aos grandes em Aquário. PANC é tradicionalista, ancestral, marginal e alimenta com qualidade. Uma flor amarela seria muito pertinente porque sem Sol não tem planta.
                A Maní aparece também na sobremesa: estilizada, processada pela cultura, em esferas perfeitas. Ostra feliz não faz pérola. As pérolas aqui nadam em suco de cajú, essa devoradora. Sagú salpicado de pé de moleque macetadinho. É proibido pensar em imagem violenta, mas se quiser pode.

                “O gosto travoso do caju é o gosto do Brasil, país marcado por contradições, como diz Mário de Andrade, de ‘corpo espandongado, mal costurado’.” [15]


                
NOTAS

[1] Oswald de Andrade. Manifesto Antropófago 
[2] Oswald de Andrade. Manifesto da poesia pau-brasil 
[3] expressão inesquecível do episódio Dream machine de Laboratório de Dexter. Cultura televisiva também deve ser devorada 
[4] por exemplo:
                “Os Tupinambás vivem próximos ao mar, ao pé da grande serra já mencionada, mas seu território se estende também além das montanhas, por cerca de sessenta milhas. Têm terras no rio Paraíba, que vem da serra e desemboca no mar, e ao longo do mar possuem uma área de cerca de 28 milhas de comprimento, que habitam.
                São pressionados por adversários de todos os lados. Ao norte, seus vizinhos são uma tribo de selvagens chamados Guaitacás. São seus inimigos. Seus adversários ao sul são os Tupiniquins; os que vivem em direção ao interior das terras são chamados de Carajás; perto deles, na serra, vivem os Guaianás, e, entre estes, vive mais uma tribo, a dos Maracajás, que os perseguem continuamente. Todas estas tribos guerreiam entre si, e quando alguém captura um inimigo, ele é comido.”
                Hans staden. Duas viagens ao Brasil
[5] Mario de Andrade. Tacacá com Tucupi 
[6] Oswald de Andrade. Manifesto Antropófago 
[7] Viviane Aguiar no curso Gastronomia e Modernismo, pela Escola do Gosto. mais da Viviane Aguiar em https://lembraria.com
[8] como os nomes sugerem, o glifo do planeta Marte corresponde ao símbolo masculino, o círculo com a lança, e o de Vênus ao símbolo feminino, o círculo com a cruz 
[9] Paula de Oliveira Feliciano apresenta os menus contextualizados em “Modernistas à mesa: a coleção de cardápios de Mário de Andrade (1915-1940)” sua dissertação de mestrado no Instituto de Estudos Brasileiros, USP, 2020.


7 DE MAIO DE 1925 – SÃO PAULO: MENU DINER OFFERT 
A MADAME OLIVIA GUEDES PENTEADO À LA “VILLA FORTUNATA”

                Potage crème de volaille 
                Filets de poisson Parmentier 
                Vol-au-vent à la financière 
                Aspic de foie gras 
                Dindonneau à la brésilienne 
                Jambon d’York 
                Salade verte 
                Gâteau Cendrars 
                Macedoine de fruits Glace 
                Champagne, Liqueurs, Café 
                
                Aspectos históricos Villa Fortunata como ponto de encontro do grupo modernista. Registro de evento Possível celebração de um ano da viagem do grupo modernista a Minas Gerais, realizada em 1924.
                Rede de sociabilidade Assinatura de convidados como Mário de Andrade, Tarsila, “Pau Brasil” [Oswald de Andrade], Sylvia de Carvalho Thiollier, Baby (Belkiss Barrozo de Almeida), Maria, Olívia (Olívia Guedes Penteado), Marcello Thiollier, René Thiollier, Clovis, Paulo; Penteado da S. Prado, Henrique e outras não identificadas pela pesquisa.
                Este cardápio conserva características comuns aos menus do princípio do século XX quanto à estética: presença de adornos, vinhetas e desenhos como requintes gráficos, diversidade de tipografias escolhidas, nomeação do anfitrião, além de citar o nome da homenageada. A menção ao nome de Mário de Andrade pode sinalizar que cada convidado recebia uma cópia individual do menu, conforme prescrito por Dubois.

                
                Menu: São Paulo - 04/08/1926 

                Consommé Printanier Royal 
                Suprème de Soles à l’Ancienne 
                Tournedos à la Renaissance 
                Asperges d’Argenteuil 
                Sauce Flamande 
                Dinde Farcie aux Marrons 
                Salade de Palmitos 
                Soufflé Violette 
                Mandarines Surprise 
                Café 
                Cocktail Trianon 
                Mumm Cordon Rouge 
                Cigares 

                Rede de sociabilidade Assinaturas de Rubens, Ian (Yan de Almeida Prado) e Martins Ribeiro, J. Marianno Filho (José Marianno Carneiro da Cunha Filho), Couto, Clóvis, Haroldo, Paulo Goulart, Alba Goulart, Maria, Olívia, V. Brecheret e outras não identificadas pela pesquisa. 

[10] Carlos Alberto Dória. A Formação da culinária brasileira 
[11] Viviane Aguiar, no curso citado 
[12] https://www.youtube.com/watch?v=S2k3bAmFsv0&t=32s 
[13] Carlos Alberto Dória. A Formação da culinária brasileira 
[14] Mario de Andrade. O turista aprendiz 
[15] citado pela Jakeline Cunha, que apresentou a dissertação “As várias faces do Brasil: a imagem do cajú em Macunaíma”, USP, 2009 
        A citação vem do vídeo “Fome estomacal de Brasil: Mário de Andrade e a cozinha brasileira”, onde você pode ver também as carinhas de outras autoras citadas neste texto https://www.youtube.com/watch?v=EYhFmu167bY&t=5655s



ANEXOS

1. outros testemunhos de Saturno: 
1922: modernismos em debate — Mesas 9 e 10, Outras centralidades. Instituto Moreira Salles https://www.youtube.com/watch?v=n6h2OY5ht-s&t=6765s

2. Menu Paulicéia Desvairada, também pelo trabalho da Paula Feliciano: 
        “Embora não datado, foi produzido antes de 1922, ano da publicação de Pauliceia desvairada, obra inaugural do modernismo brasileiro, referida na ilustração. Na glosa de um cardápio, no desenho ganha expressão a vivência lúdica do grupo modernista brasileiro. O menu compõe-se de Fruit salad Paulicéia Desvairada, Sandwich a Mestres do Passado, Gateau das Dúvidas, Quindins das Críticas, Chá Amargo, Refresco Debussy. No documento, patenteiam-se testemunhos das tensões entre vanguardistas e “passadistas”. O documento alude, por exemplo, aos “Mestres do passado”, série de artigos de Mário de Andrade difundidos no Jornal do Comércio de São Paulo, entre agosto e setembro de 1921, focalizando a então festejada poesia parnasiana, para ressaltar as suas fragilidades.”


3. outros significados das Casas 4 e 10 
        Em mapas pessoais, de natividade, cada planeta é significador de vários assuntos e pessoas que participam da vida do nativo. 
       A mãe do nativo, por exemplo, é significada pelo regente da casa 10. O pai, pelo regente da casa 4. 
       Se o mapa da Lunação fosse uma natividade, a mãe seria o Sol em Leão, e o pai seria Saturno em Aquário. 
       Com isto posto, segue o conto:
       
       https://contobrasileiro.com.br/o-peru-de-natal-conto-de-mario-de-andrade/

Publicação do conto no Jornal da Tarde, em 25 de dezembro de 1949,
quatro anos depois da morte de Mário de Andrade




Menu-lunação Leão 

Jardinière do Abopuru 
Caçarolinha de cogú 
Maní-festo Sagu de cajú 
Pé de moleque



CAÇAROLINHA DE COGÚ 

1 xícara de leite de coco 
½ xíc de cebola picada 
½ xíc de pimentão picado 
1 pimenta dedo-de-moça picado 
400g cogumelo shimeji 
1 dente de alho ralado ou picadinho 
coentro fresco 
limão 
2 pães secos 

                Se o pão estiver bem sequinho, corte os miolos em cubinhos para gratinar, como farinha de rosca. Se estiver mais macio, desfie o miolo, como der para fazer bem fininho.
                As cascas podem ser rasgadas ou cortadas em pedaços maiores. Meça 1 xícara e coloque para hidratar no leite de coco. 
                Aqueça o forno a 200°C.
                Separe os cogumelinhos. No vídeo indicado a cozinheira sugere pulsar no processador, para fazer uma simulação de outra coisa. Eu proponho pedaçudinho pra assumir o cogumelo
                Em uma panela, refogue em fogo baixo o pimentão e a cebola. Acrescente a pimenta, se você conseguiu a fresca. Se você tem coentros pode colocar também uns talos picadinhos aqui.
                Se os cogús estão cortados pequeninhos, acrescente agora. Se você seguiu a minha sugestão de deixá-los inteiros, retire da panela o refogadinho, coloque mais um fio de óleo, aumente o fogo e coloque os cogumelos. Resista e não fique mexendo, deixe dar uma tostada embaixo, então mexa, deixe mais uns minutos até tostar de novo outro lado. Apague o fogo.
                Coloque o alho, sal, pimenta, o azeite de dendê, a gosto e com cuidado, lembra que ele te devora!, e o pão demolhado com o leite de coco. 
                Mexa bem e coloque na travessa ou caçarolinhas individuais.
                Espalhe por cima o pãozinho picado/farinha de rosca. 
                Leve ao forno por 20 a 25 minutos ou até que o pãozinho de cima fique dourado.     
                Na hora de servir, esprema um limãozinho e espalhe folhas de coentro.

                https://www.youtube.com/watch?v=U8B3VlaHY40



MANÍ-FESTO 

                Vai da mandioca, do tempo e da vontade que você tiver aí: 
                Eu achei bem interessante conhecer e fazer com a mandioca fresca esse processo do bijú, que você pode ver aqui no vídeo.
                Esse caldo também é usado: a tapioquinha do amido que decanta do caldo é bem legal. O processo aqui 
                https://come-se.blogspot.com/2007/12/da-mandioca-tapioca-e-ao-polvilho.html
                Mas confesso. Preferência minha, recomendo que quem tiver disposição faça os dois. Eu apaixonei mais pela fritadinha simples da mandioca ralada (que acabei descobrindo quando esqueci de espremer a massa ralada); porque muito do sabor se perde quando você separa o suco pra fazer o biju.



BIJÚ 
por Paola Carosella, em vídeo aqui
por Neide Rigo, daqui

                Lave bem e descasque a mandioca. 
                Corte a mandioca em pedaços pequenos, com água suficiente para fazer o liquidificador funcionar, vá triturando no liquidificador e passando por peneira fina. Se quiser se exercitar um pouco mais, rale toda a mandioca em vez de liquidificar - assim é o jeito clássico. Neste caso, junte água depois para enxaguar bem as fibras e extrair o amido.
                Depois que toda a mandioca já foi triturada, passe por pano de algodão, espremendo bem.                        Guarde o líquido com o amido para outros preparos (ver link Come-se) 
                Salgue a massa agora seca, quebrando as pedras para obter uma textura soltinha como farofa.
                Acomode na frigideira seca, sem apertar a massa 
                Levar ao fogo médio, sem tampar, até que a casquinha comece ficar coesa e a soltar. O amido fará com que o bijú se forme em um corpo mais ou menos firme, que dê para virar
                Vire, coloque manteiga vegetal por cima e deixe dourar a parte de baixo



FRITADiNHA DE MANDIOCA 

                Tenha à mão o ralador e a mandioca limpa e descascada. Se for bem novinha, tire só a pelo marrom e deixe a casquinha branca. 
                Coloque a frigideira para esquentar enquanto rala e salga a mandioca. 
                Espalhe na frigideira um fio de óleo e acomode a mandioca ralada. 
                Deixe dourar, vire, coloque mais um pouco de óleo pelas bordas para que ele escorra por baixo da fritadinha e deixe dourar.



JARDINIÈRE DO ABAPORU 
~ o homem que come gente ~

ervilha 
cenouras cortadas como você quiser 
cebola, bem pequenas ou cortadas em pétalas 
PANC para finalizar. 

                Tenha gelo preparado. Ou água gelada. 
                Leve ao fogo alto uma panela com água salgada.
                Quando ferver, cozinhe ali a ervilha por 2 minutos, retire com uma escumadeira e coloque rapidamente na água gelada. 
                Coloque a cenoura para ferver. 
                Retire a ervilha da água gelada, deixe escorrendo em uma peneira.
                Com a cenoura, faça a mesma coisa: retire e coloque na água gelada por um minuto e escorra.
                Isso vai deixar mais bonitas e vibrantes as cores do Abaporu.

                Aqueça uma frigideira e nela o azeite de oliva ou óleo vegetal. 
                Salteie as cebolas por alguns minutos até que fiquem suaves, acrescente a cenoura e a ervilha, deixe abafar um minuto com a panela tampada. Salgue. 
                Essa é a base. Se quiser, acrescente azedinhas, ora-pro-nobis ou outra PANC e finalize com flores de azedinha, capuchinha ou outra.



SAGÚ DE CAJÚ 
½ xíc sagú 
½ xíc açúcar 
2 ½ xíc suco de cajú (usei um suco em caixinha já adoçado) 
2 cravos 
pé de moleque

                Hidratar meia xícara de sagú em 1 ½ xíc de água fria por 1 hora. 
                Em uma panela, dissolver ½ xíc de açúcar em 2 ½ xíc de suco de cajú. Acrescentar 2 cravos e levar ao fogo médio, sem mexer, até ferver.
                Então deixe o fogo baixo e junte o sagú com a água que ficou. 
                Cozinhe por 30 minutos, mexemexendo de vez em quando para que não pegue no fundo da panela.
                As bolinhas estarão com a superfície translúcida e o centro branquinho. Apague o fogo, deixe esfriar. Leve à geladeira. 
                Sirva fartamente salpicado com pé de moleque quebrado bem miudinho.



LISTA DE COMPRAS 
para duas pessoas 

feira: 
cebola 2 un pq 
pimentão 1 un 
pimenta 
alho 
coentro fresco
limão 2 un 
mandioca crua 600g 
ervilha 
cenoura 1 un 
PANCs para finalização

secos e molhados: 
cogumelo shimeji 400g 
pé de moleque 
leite de coco 250ml ou 200ml 
pães secos 2 un 
óleo vegetal 
sagú ½ xíc 
açúcar ½ xíc 
suco de cajú 
cravos 2un 
gelo

[texto enviado na data da lunação para apoiadores, publicado aqui em 26/01/25]

                






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