Cozinha e confeitaria têm processos bem diferentes. A confeitaria é exata, balança, termômetro, controle. A cozinha, mesmo que muitos se refiram à receita como "ficha técnica", é livre, aberta ao improviso, pode ser levada pelos perfumes e pela intuição. Muito mais difícil na cozinha da comida um erro a ser anotado para ser corrigido na próxima execução. O erro é apenas algo que saiu diferente da expectativa, ganha significado no conjunto.
Por isso, na quiche de hoje, a massa é de Mercúrio em Virgem, o recheio é da Lua em Peixes. Tarefas separadas para evitar a treta. Até o ponto em que é evitável:
— Você sabe o que está fazendo?
— Claro. Me passa esse potinho ali, por favor.
— A abóbora já é adocicada, você está enchendo de pimenta síria! Já foi cominho, alho, zahtar, tudo o que tinha pela frente!
— Por isso esse perfume, nénão, meu querido melancólico? Você por acaso tem aí...
— Não, chega de temperos aleatórios. E por favor cuida pra não deixar o recheio muito molhado pra massa não ficar molenga. É anis que você está colocando? Por que anis?
— Porque é lindo! As escamas de abobrinha lembram um peixe, o anis lembra as estrelas, e Júpiter sugeriu uma pimenta fresca! Que quiche mais linda e cheirosa essa nossa, Mercúrio!
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