Minha querida amiga,
Cheguei na sua casa. Era pouco mais que três da madrugada então me recolhi em silêncio. Ainda assim me levantei antes do Sol, de tanta saudade de olhar em volta. Tudo ainda guarda o frescor da sua passagem recente.
Com o Sol aqui a casa está tão iluminada! Trançamos juntos várias réstias de cebolas. Algumas, que não tinham folhas para trançar, cortei em pétalas bem finas. Cortei tantas quantas as lágrimas permitiram. O Sol nos servia vinho verde que ele gosta tanto e as umidades foram se misturando. Pedi a ele que dissolvesse açúcar em uma panela com água fria. Como ele fez isso na bancada onde estavam as cebolas recém cortadas, acabou temperado a calda também com as lágrimas, exatamente o que eu tentei evitar delegando-lhe a tarefa. Bom, dizem que é bom colocar uma pitada de sal nos doces, e assim foi.
Então colocamos a panela sobre o fogo baixo até que o caldo ficou bem brilhante e transparente como o vinho em nossas taças.
Só então colocamos as cebolas cortadas. Aos poucos elas soltaram seus sucos, absorveram a calda, ficaram resistentes.
Servimos a cebola caramelizada sobre as delicadas bolachinhas com gergelim que você fez.
Fechamos a noite com um vinho mais encorpado de Marte.
Brindamos à sua saúde. Todos os três te amamos muito.
M.
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