Menu — Lua cheia em Peixes
Ceviche musáceas
Salada de trigo em grãos
Candied garlic
Berinjelas em birra tostadas
Brownie
A Lua hoje se encontra no lugar mais longe possível do Sol nota[1]; mostrando-se redondíssima, iluminada.
Durante o tempo em que a Lua percorreu esse caminho, do encontro com o Sol até o ponto da oposição a ele, alguns atores trocaram de signo, além da própria Lua, certamente: no dia 10 de setembro Vênus entrou pelo território do seu exílio e Marte fez a mesma coisa no dia 14. Marte em Libra, signo de Vênus e Vênus em Escorpião signo de Marte. A disposição mútua alivia o exílio. Sabe aquele limão? É incomum alguém chupar limão, mas ele se dá muito bem em uma mesa de refeição, exilado da salada de frutas. A pungência dá equilíbrio libriano a certos preparos, e os nutrientes fortalecem o sistema imunológico do comensal, é Marte garantindo a integridade do seu corpinho para desfrutar os prazeres de Vênus.
Outra fruta exilada é o tomate.Vênus rubra obscena, das cavidades super úmidas, das sementes boas de brincar com a língua; da casquinha que rompe sob a pressão dos dentes. Chegou a ser proibida, a despudorada. Exilada em Áries. De qualquer maneira, é perigoso cortar tomate com faca cega como a de Marte debilitado. E digo mais, a faquinha de serra, exiladinha dos estojos dos chefs, é perfeita para tomates.
RECOLHER OS PEDAÇOS E CONSTRUIR UM MUNDO NOVO
A gente vê o que a Lua vê [2]. O Sol em Virgem, por oposição e Vênus em Escorpião, por trígono. Os outros planetas seguem com grande importância: Júpiter é dispositor da Lua, Marte da Vênus e Mercúrio do Sol. Eles também têm seus dispositores, assim o mapa todo se tempera.
Nesse mapa, o que alimenta os sonhos da Lua em Peixes? O Sol, que a ilumina com doses secas de realidade melancólica, Júpiter num signo de Saturno, Vênus, a quem a Lua exalta, exilada no signo de Marte.
Não é um mar idílico onde a Lua se encontra. Com os dispositores em signos fixos, a mim me parece um grande aquário. Ela vai ter que se nutrir com o que tem ali.
A Lua pode olhar para Kurt Schwitters, um artista alemão do começo do século XX [3]. Ele fez muita coisa, em muitos campos, pintura, música, escultura, performances dadaístas, fundou revista (alô Sol em Virgem), instalação, colagem. Acredito que ele seja mais conhecido pelos dois últimos, e é de onde quero puxar meu argumento. Schwitters se formou em 1914, ano em que se iniciou uma grande destruição mundial. Destruição de vidas, de certezas, de cidades. Nos anos que se seguiram à guerra, Schwitters catava papeizinhos da rua e era com isso que fazia suas colagens. Papéis de bala, bilhetes de trem, embalagens, lixinhos enfim. Ele disse: “a guerra acabou e o mundo está em ruínas, eu quero recolher os pedaços e construir um mundo novo”.
Schwitters causou também um grande rompimento com a Arte anterior, que fundamentada na representação a partir de uma perspectiva racional, calculada, com seus pontos de fuga, que se impõe não só à natureza mas também ao próprio Deus. Os dadaístas consideravam que a Primeira Guerra Mundial, que foi um choque para a humanidade, com seus aviões, armas de longo alcance e de destruição em massa, foi um resultado desse mesmo racionalismo, portanto uma ação de Schwitters foi, em seus quadros, abolir espaço criado com a perspectiva renascentista.
Eu sei, Lua, também sempre fico com os olhos marejadíssimos quando penso nisso tudo. A última foi uma observação do Argan, professor que tem Júpiter em Virgem no Meio do Céu regendo o Ascendente. Nada escapa do olhar essa águia. Nada escapa do cérebro dessa água com Mercúrio em Gêmeos.[4]
Apresento o Argan não à toa, trarei um pedação do texto dele, para falar ainda de outro trabalho de colagem.
DÉCADENCE AVEC ÉLÉGANCE
O signo de Peixes é onde Vênus, a deusa do amor, se exalta. Além disso, dá domicílio a Júpiter, e é onde Júpiter exerce seu lado mais sedutor, inclusive transformista, num sentido tão amplo quanto os oceanos, pois para suas conquistas amorosas se transformou inclusive em animais e eventos atmosféricos, como o cisne para a Leda, o Touro para Europa, a chuva de ouro para Dânae.
Essa sedução mesclada com ilusão marca também nossa relação com o cinema. Mais fortemente na época dourada de endeusamento das grandes estrelas de Hollywood,que pareciam mesmo muito acima de nós reles espectadores mortais.
A Lua em Peixes, com os dispositores em signos fixos, idolatra esses atores, os clássicos, os finais “casaram e viveram felizes para sempre”, e tem um cartaz da Greta Garbo em alguma parede da casa ou do celular.
Os cartazes, coloca Argan, “constituem um aspecto efêmero, porém importante, da paisagem urbana; como efêmeros e caducos, são, na verdade, apresentados com uma alusão cristalina à rápida modificação do rosto da cidade.” Tanto Peixes como Virgem são signos mutáveis, ou seja, que finalizam uma estação do ano, preparando e abrindo espaço para a próxima que virá. Peixes fecha o inverno (mítico), daí a brisa de esperança de vida que o contagia (além da regência dos benéficos); Virgem, ao contrário, fecha o verão. Prepara-se para uma época de escassez de alimentos, de movimento e de vida. Sendo assim, não perde de vista um detalhe, não desperdiça uma migalha, olha o que há em volta, o que está à mão, o que é real.
Mimmo Rotella usa os fragmentos de cartazes para criar suas imagens. Além da tensão Virgo-Peixes dos luminares, a debilidade da Vênus escancarada.
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https://viscontifineart.com/buyart/a-qualcuno-piace-caldo |
“Quem viu um décollage de Rotella, feito com fragmentos de cartazes publicitários, já não pode dar meia dúzia de passos pela cidade sem se deparar com dez, cem ou mil quadros de Rotella. Talvez pense que quadros assim também saberia fazer, é simples arrancar dos muros a crosta endurecida dos anúncios sobrepostos; mas, nesse meio tempo, terá aprendido a ver um aspecto até então insignificante da paisagem urbana.
Dubuffet interpretou o sentido do gesto instintivo com que as pessoas rabiscam os muros. rotella observa outro gesto instintivo, o de arrancar os cartazes de propaganda. Com esse gesto inconsciente, talvez tome nota da provisoriedade, da precariedade, da inconsistência dessas imagens vivazes e efêmeras: sabe-se que, à noite, os cartazes, principalmente os anúncios tão vistosos da propaganda de cinema, serão retirados ou recobertos por outros. Trata-se de um gesto inconsciente, de um impulso que as pessoas educadas reprimem; no entanto, há uma relação entre esse aparato de imagens coloridas e a neurose do habitante da cidade. Há algo mais: a publicidade é informação, a informação é o instrumento essencial da civilização de consumo. todavia, o cartaz rasgado, que deixa aflorar, como um palimpsesto, as figuras dos cartazes por baixo, transmite uma miscelânea de fragmentos de notícias sem nenhuma ligação ou relação entre si. Exatamente porque a imagem já não serve mais à sua função publicitária, ela pode ser vista como imagem, avaliada como fato estético. Também na poética de Rotella, a imagem não tem um significado estético em si, mas recebe-o de seu fruidor.”[5]
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https://www.robilantvoena.com/artists/37-mimmo-rotella/works/1694/ |
Menu — Lua cheia em Peixes
Ceviche musáceas
Salada de trigo em grãos
Candied garlic
Berinjelas em birra tostadas
Brownie
CEVICHE MUSÁCEAS
banana
cebola, se tiver roxa melhor
coentro fresco
limão, de preferência gelado
gengibre
pimenta fresca ou calabresa
Tudo a gosto. A assemblage é sua. Só não se esqueça do mar de limão para Vênus, esse suco vai romper supostas fronteiras e temperar também a salada de trigo.
Porém digo uma coisa: deixe a banana para cortar por último e já mergulhe as musinhas no limão.
Tem receita que pede a banana da terra e deixa bastante tempo no limão para que o ácido cozinhe a banana. Eu uso a banana caturra madura e acho que o contraste do docinho dela fica maravilhoso com a cebola, o limão e o coentro. Siga o seu coração mas não coma a banana da terra sem deixar cozinhar esse tempinho, pelo menos 40 min.
Os cortes na diagonal ficam bonitos e bem modernistas.
https://www.youtube.com/watch?t=29&v=nFbnxvqm2_o&feature=youtu.be
CANDIED GARLIC
a partir do quinto minuto do vídeo desta página
8 dentes de alho
¾ xíc de caldo de legumes (com aqueles toquinhos e casquinhas do saquinho da Lua nova)
2cS açúcar
¼ cc sal
2 cS azeite
Dissolva o açúcar e o sal no caldo, leve ao fogo.
Apoie a lâmina de uma faca grande deitada sobre um dente de alho e dê uma batida seca. O dente se quebra e a casquinha sai com os dedos. Retire a pontinha dura.
Faça isso com todos.
Quando o fundo ferver, coloque o alho para cozinhar e deixe até que fiquem macios, al dente.
Retire e escorra.
(neste mesmo caldo eu adicionei mais água e cozinhei ali os talos de brócolis)
Aqueça uma frigideira com o azeite, espalhe os dentes de alho — com cuidado, caso estejam muito molhados podem causar estouros no óleo.
Deixe dourar embaixo, vire os dentes e deixe dourar.
Sirva com a salada de trigo.
SALADA DE TRIGO EM GRÃOS
trigo em grãos
candied garlic ou alho assado
passas brancas
salsinha
azeite de oliva
talos de brócolis
De novo, tudo a gosto. A assemblage é sua, nem na temperatura vou dar palpite porque é boa tanto morninha quanto gelada quanto na temperatura ambiente.
No prato ela vai ganhar o azedinho do caldinho do ceviche mas se você quiser pode ainda colocar as passas para hidratar em limão.
Os talos de brócolis eu cortei em cubos e cozinhei al dente no restinho do caldo do alho com mais água. Ficou bem bom. Couve rábano deve ficar tão bom quanto. Ou talinhos de couve.
Na véspera, coloque os grãos de trigo para hidratar. Aproveita e coloca os limões e a cebola do ceviche na geladeira (as bananas não).
Escorra o trigo, lave e cozinhe em água nova por 10 a 15 minutos na panela de pressão.
Escorra, deixe esfriar e misture os ingredientes cortadinhos.
BERINJELAS EM BIRRA TOSTADAS e JILÓ (porque de doce já basta a vida)
berinjela
jiló opcional
amido de milho ou outra farinha fininha
óleo vegetal
cerveja (birra)
Corte as berinjelas e jilós em fatias de meio a um centímetro de espessura. Coloque para marinar na cerveja com um tantico de sal e reserve.
Coloque para escorrer em uma peneira.
Salgue o amido de milho e empane as berinjelas.
Coloque para tostar em uma frigideira quente, em fogo médio/alto com um fio de óleo. Quanto mais óleo você colocar, a berinjela vai absorver. Bom fica, a gente sabe. Vai no teu limite e no teu gosto.
BROWNIE do Jamie Oliver
5 cS óleo de girassol, e mais o que vai para untar a forma
200g chocolate picado
170g farinha de trigo
1cc fermento químico
3 cS bem cheias de chocolate em pó (dos padres!!)
180g açúcar demerara
Pitada de sal
Baunilha
230ml de leite de coco
200g nozes
Pré-aquecer o forno a 180ºC, untar uma forma com óleo e forrar com papel manteiga;
Derreter 150g do chocolate em banho maria, deixar dar uma esfriada, dando umas mexidas. Cortar os outros 50g e reservar.
Peneirar a farinha, fermento, chocolate em pó e sal. Adicionar o açúcar, mexer.
Misturar o leite de coco, baunilha e óleo com o chocolate derretido.
Juntar aos secos.
Juntar as nozes e o chocolate picado. Fazer isso sem demorar muito pq provavelmente o chocolate ainda estará quentinho e o fermento já começa a reagir.
Assar por 20 min.
[texto enviado na data da lunação para apoiadores, publicado aqui em 08/03/25]
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