10 junho 2021

Menu-lunação: GÊMEOS

Hash browns 
Molho de abacate 
Travessa de feijão branco com macarrão 
Cookies


 “Há uma inteligência oculta em nossas cozinhas, 

e ela afeta nosso modo de cozinhar e de comer.” [1]


        A Lua então, só num fiapinho de luz, encerra a lunação de Touro. Começamos pelas naturezas mortas, lidando com a materialidade, passamos pelo Fluxus, onde toda ação seria considerada uma performance. Agora a gente pode continuar nessa linha, indo para o desenho industrial, e olhar para os nossos utensílios observando suas formas, sentindo o peso do seu material, e a engenhosidade das soluções que eles oferecem. Afinal, entramos em uma lunação mercurial, e Mercúrio é engenhoso. No texto que acompanhou o menu da Lua Cheia, juntei um trecho em que Robert Graves conta como, no seu primeiro dia de vida, o pequeno Mercúrio inventou a lira, a partir da casca de tartaruga, fabricou os sapatos de casca de orvalho amarrado com grama trançada para as vacas, para ocultar suas pegadas que denunciariam o furto do rebanho do Apolo.

        Agora, com a Lua encontrando o Sol em Gêmeos, domicílio de Mercúrio. Ele mesmo em Gêmeos, a apenas um grau de distância do Sol — combustíssimo, os cabelos em chamas como Curupira, e andando “para trás” como Curupira — e, portanto, ainda mais inquieto. Pode querer falar falar falar, e falar com as mãos, e que as ideias passem pelas mãos, que produzam objetos, soluções.

        Em dois momentos breves a situação de combustão muda: no encontro de Lua e Sol no grau 19°, a Lua eclipsará o Sol, limitando a sua luz a um anel solar. O outro momento é à noite, quando a Lua estiver já no grau 26°, o próprio Mercúrio entrará na frente do Sol, se iluminando, se purificando. Se você desejar, esse sim é um momento de conexão, e não o momento do eclipse. Você pode oferecer palavras, ele gosta. Ele gosta de linguagens em geral. Das 17.40h às 02.26h com o ápice, Mercúrio no mesmo grau e minuto do Sol, às 22.06h.

        Nosso menu tem uma puxada bem latino-americana, com batata, tempero mexicano, o molho de abacate ensinado pelo amigo peruano; dos bijús de milho farei os cabelos de Curupira (só, formato, sem fogo!) e oferecerei a ele, protetor das nossas florestas, e que tem tido bastante trabalho ultimamente. Também no menu feijão e macarrão pra ele se sentir acarinhado e forte. Força, Curupira! E esperteza, como sempre!

        

Invenções na cozinha

                Quando a gente olha para a nossa subestimada cozinha caseira, vê dezenas de invenções. De alguns desses objetos engenhosos você nem conhece todas as funções. Quer ver?  



        Como o mapa da lunação tem o Ascendente em Câncer, penso no pote. Com ele, a possibilidade de cozinhar os ingredientes em água, por um tempo longo, que trouxe novas misturas dos sabores, novas texturas e facilitou a digestão de certos alimentos. 

        “Se você encontrasse apenas água fria, como lhe ocorreria a ideia de aquecê-la para cozinhar? A água e o fogo são opostos – inimigos, até. Se você tivesse passado horas preparando uma fogueira – colhendo lenha, esfregando pedras,empilhando gravetos –, por que poria tudo em risco aproximando água do seu precioso fogo? Para nós, com nossas bocas de fogão fáceis de reacender e nossas chaleiras elétricas, ferver é uma atividade muito prosaica. Estamos acostumados com as panelas. Mas cozer na água quente não devia parecer um próximo passo evidente para quem nunca o tinha feito.”[2]

        Nesse trechinho a autora fala das bocas de fogão fáceis de acender; em outro trecho do livro ela conta que por séculos, quando se cozinhava naquelas lareiras abertas enormes, muitas mulheres morriam porque, além do ambiente confinado, fumacento e quente, imagine lidar com o fogo e panelas com aquelas saias de mil panos?

        Lembro que quando comecei a lida em cozinhas profissionais fiquei horrorizada com a dólma de tecido oxford, que é um material sintético e inflamável; e desconfortável, pois suarento. Claro que hoje em dia, como podemos escolher o material das nossas roupas, essa situação segue estúpida, mas certamente pareceu menos grave do que as saias das mulheres ali roçando o fogo, se oferecendo às suas lambidas. Nesse ambiente de Marte, a maioria dos cozinheiros eram homens, “quase sempre, e não raro trabalhavam nus ou apenas com a roupa de baixo, por causa do calor escaldante. (...) É fácil esquecermos que a tecnologia da cozinha ainda é uma questão de vida ou morte. Os dois mecanismos primários da culinária – cortar e aquecer – são repletos de perigos.”[3]

        Não é só aí que Marte entra na cozinha; grandes invenções como o forno microondas e o inox são a xepa da industria bélica.

        E outras técnicas que já existiam foram aperfeiçoadas por ela, como as conservas e suas embalagens.


Outra dualidade, e Harmonia

        Várias invenções vêm da guerra e chegam à cozinha, ao prazer. 

        Na casa I do mapa ascende do Céu outra dualidade: o amor e a guerra. Vênus e Marte.

        

        Na Astrologia, vemos que os signos são locais de exílio do outro: Touro e Libra, domicílios de Vênus, são o exílio de Marte; Áries e Escorpião, signos de Marte, são o exílio de Vênus.

        Na mitologia, eram amantes e tiveram uma filha, chamada Harmonia. O professor de mitologia Carlos Moreno lembra que apesar de soar incoerente o amor e a guerra terem uma filha chamada Harmonia, nós humanos somos essa harmonia, temos guerra, temos amor em nós, e é o que mostra também o mapa natal de cada um, todos nós temos Vênus e temos Marte.

        Curupira também tem visivelmente essas duas forças atuando: o amor aos animais, à mata, e, para defendê-los, é necessária a presença de Marte. Curupira também é famoso por sua característica mercurial.

        

CASA XII 

Dédalo 


        Dédalo foi um humano engenhoso da mitologia grega e que também conheceu de perto alguns eventos de casa XII.

        O primeiro que sabemos: a inveja. Aquele sentimento supostamente vergonhoso, ultrajante e, por isso, secreto. A casa XII é o destino do que a gente quer varrer pra debaixo do tapete. E tem muito a ver com o caráter de prisão, e de auto sabotagem, já que o que você esconde te aprisiona, você não é mais livre para agir sem cuidar para não deixar escapar algo comprometedor; e de auto sabotagem porque às vezes essa sujeira cresce, vira um monstro pronto para dar o bote e escapar.

        Dédalo era um ferreiro, e inventor, admirado em Atenas. Recebeu seu sobrinho como aprendiz e o jovem se mostrou um ótimo aluno. Até demais. Começou a também ser admirado pelos seus conterrâneos e em Dédalo nasceu aquela minhoquinha verde e um dia, não mais suportando a situação, assassinou o sobrinho.

        Então Dédalo vive outra situação bastante notória na Astrologia: o exílio. 

        Em Creta, ele trabalhou para o rei Minos.

        “Conta-se, por exemplo, a história do grande Minos, rei da ilha-império de Creta no período de sua supremacia comercial: diz-se que ele contratou o celebrado artista-artesão Dédalo para conceber e construir um labirinto, no qual esconderia algo de que o palácio tinha vergonha e, ao mesmo tempo, medo. Pois havia um monstro na propriedade que a rainha, Pasífae, havia dado à luz. Diz-se que Minos, o rei, andava às voltas com importantes guerras destinadas a proteger as rotas comerciais; enquanto isso ocorria, Pasífae havia sido seduzida por um touro magnífico, branco como a neve, nascido do mar. Na verdade, o que ocorrera não era pior do que aquilo que a própria mãe de Minos, Europa, havia permitido que ocorresse anteriormente: fora levada para Creta por um touro. O touro era Zeus, e o honrado filho resultante da sagrada união era o próprio Minos na época respeitado e alegremente servido em toda parte. Como poderia Pasífae, nessas circunstâncias, ter sabido que o fruto de sua indiscrição seria um monstro — uma criança de corpo humano, mas dotada de cabeça e de cauda de touro?

        A sociedade condenara amplamente a rainha; mas o rei não desconhecia sua parcela de culpa. O touro em questão havia sido enviado pelo deus Posêidon, há muito tempo, quando Minos lutava com os irmãos pelo trono. Minos havia afirmado que o trono era seu, por direito divino, e havia pedido ao deus que enviasse um touro do mar, como um sinal; ele havia selado suas orações com a promessa de sacrificar o animal imediatamente, como uma oferenda e símbolo de submissão ao deus. O touro aparecera e Minos tomara posse do trono; mas quando percebeu a majestade da besta que havia sido enviada e pensou que poderia ser muito vantajoso possuir um tal espécime, ele decidiu arriscar-se a uma troca comercial — com a qual, ele supunha, o deus não se incomodaria muito. Tendo oferecido ao altar de Posêidon o melhor touro branco que possuía, Minos juntou o touro enviado [pelo deus] ao seu rebanho.

        Mas, internamente, a rainha havia sido levada por Posêidon a apaixonar-se loucamente pelo touro. E ela havia conseguido que o artista-artesão contratado pelo marido, o incomparável Dédalo, construísse uma vaca de madeira em que a rainha entrou ansiosamente; e assim o touro foi enganado. Ela deu à luz seu monstro, que mais tarde, passou a ser um perigo. Então Dédalo foi chamado outra vez, desta feita pelo rei, a fim de construir um impressionante labirinto, com passagens ocultas, para esconder a coisa. A invenção foi tão engenhosa, que o próprio Dédalo, ao terminá-la, só encontrou o caminho para a saída a duras penas. Aí foi instalado o Minotauro; daí por diante, ele passou a ser alimentado com grupos de rapazes e moças, levados como um tributo pelas nações conquistadas no âmbito do domínio de Creta.”[4]

        Isso acontecia até que Teseu se dispôs a entrar no labirinto e matar o Minotauro. Ele se juntou ao grupo dos jovens que seriam sacrificados e, ao se apresentar no palácio, Ariadne, filha de Persífae e Minos, se apaixonou por ele e ofereceu sua ajuda.

        “Ariadne procurou então a ajuda do habilidoso Dédalo, cuja engenhosidade havia construído o labirinto e havia permitido que sua mãe desse à luz o seu habitante. Dédalo lhe deu simplesmente um rolo de fio de linho, que o herói visitante deveria prender à entrada e ir desenrolando à medida que entrasse no labirinto. Na verdade, precisamos de muito pouco!

        Mas, se não tivermos esse pouco, a aventura no labirinto não nos dará esperança. Esse pouco está ao alcance da mão. É muito curioso que o próprio cientista, que, a serviço do rei pecador, foi o cérebro criador do horror representado pelo labirinto, possa servir, com a mesma prontidão, aos propósitos de liberdade. Mas o herói-coração deve estar disponível. Durante séculos, Dédalo representou o tipo do artista-cientista: aquele fenômeno humano, curiosamente desinteressado e quase diabólico, que está além das fronteiras normais do julgamento social, dedicado à moral da sua arte, e não à moral do seu tempo.”[5]

imagem daqui


Menu 

Instruções em labirinto


        Além das receitas, pensei que seria de ajuda descrever o processo todo, porque eles podem se entrelaçar, e, justamente, achei bonita a ideia de um preparo estar no forno, no congelador ou reservado, enquanto outra está no rolê da cozinha, como os gêmeos da mitologia, que se revezam entre a terra e o Hades.

        Agora que escrevi desconfio que, ao contrário, essa tentativa de ajuda possa causar algum pânico. Considerei coerente manter assim, já que o pânico mora na casa XII. Para dar conta do pânico geminiano vale muito juntar o corpo às ideias, e é o que faz quem cozinha.

        Então dê uma lida antes, e lembre-se: algumas coisas podem ser preparadas com antecedência se você preferir. A massa dos cookies pode ser preparada e moldada, só faltando assar; o feijão pode ser cozido e temperado e, se quiser ainda use um feijão já pronto. “Tem aquele pote de sorvete com feijão no congelador?” lembra Saturno que, ao mesmo tempo que engraçadinho, lembra que no pote de sorvete nem sempre tem sorvete, ou seja, nem tudo na vida são moranguinhos.

        O vídeo com instruções dos hash browns toca a casa XII de quem tá cozinhando, por conta de uma ameaça: se você não deixar o tempo certinho no fogo a sra. Jenny vem te pegar!

        Eu coloquei até o temporizador porque não brinco com essas coisas de XII, mas meu fogão é bem forte, e fiz na frigideira de ferro, então na metade do tempo o cheiro avisava que estava no limite. Tive virar a panquequinha. Na próxima tentei me redimir, usei fogo mais baixo, o tempo foi um pouco maior mas ainda estou correndo risco de receber a visita da sra. Jenny!

        Também é comum tomar uma pequena porção e fazer vários de uma só batata. Eu gosto aqui da ideia da grande — porque é mais difícil de comer — pra gente pensar as ferramentas. Garfo? Mãos? Será que precisa da faca? Você pode enrolar e chuchar no molho de abacate. Ou você prefere passar o molho sobre o hash brown? Com uma faca ou uma colher?

        Justamente, o que proponho aqui é pensar em utensílios: usar pelo menos colher e garfo, pra prestar atenção no que escreveu o Gustavo Barcellos[6]: a colher como a conchinha que acolhe e sustenta o líquido, o garfo como o que espeta, que distancia o alimento que poderia ser comido com as mãos.

        Se você for cozinhar o feijão, deixe de molho na véspera, em bastante água. No dia. escorra o feijão e coloque para cozinhar em água nova com uma folha de louro.

        Comece a sobremesa. Prepare a massa e enquanto ela congela deixe separadas as batatas, o ralador, a bacia, as toalhas de papel. Reserve. O menu será todo assim: enquanto um preparo está no Hades o outro está no rolê da cozinha.

        A ideia, em resumo, é que o forno aquecido receba primeiro os cookies e para aproveitar o calor a caçarola. E que a caçarola esteja no forno enquanto você come a entrada.

        Não se preocupe, há muitas pernas braços e cabeças pra trabalhar!

        Vamos deixar à mão o que vai na caçarola canceriana. Um escondidinho seria óbvio e certo mas vamos deixar escondidinho são os temperos. O tempero caseiro confortativo do feijão será mesclado com sabores incomuns a ele, gosto de pensar que o tempero caseiro será inspirado pela gigantesca casa XII.

        Se quiser já faça a misturinha dos temperos e evite vários potinhos e suas tampas soltas estorvando a mesa, o balcão na hora da bagunça.

        Será que o feijão está cozido? Apague o fogo para sair a pressão, deixe preparada a panelinha com o tempero básico: óleo, sal e alho. Não acenda o fogo até que a panela de feijão esteja destampada.

        Enquanto sai a pressão, coloque na panela a água para cozinhar o macarrão, pegue os tomates e aquele garfo velho que pode manchar.

        Abro aqui minha gaveta e mostro meu garfo exclusivo de descascar tomates. Meu gadget. Eu uso bastante por isso a situação dele é de dar pena. Mas quero recomendar que você use um que não te magoe se ele ficar manchadinho, e principalmente, um que tenha um cabo de material que não seja condutor de calor, porque é fácil um distraído queimar a mão nesse processo. Marte está angular, não vacile!

        

        Panela de feijão destampada, acenda o fogo da frigideira do tempero, deixe dar aquela leve fritadinha no alho e coloque sobre ele uma concha do feijão com bastante caldo, mexa e jogue tudo na panela de pressão. A gente quer o feijão com caldo, de preferência grossinho. Deixe ele ali na maciota e vamos aos cookies. 
        Acenda o forno, forre a forma.
        Pegue a massa e modele esses lindos. Se o forno está aquecido coloque-os para assar por 20 minutos.
        Acenda o fogo da água do macarrão. Aproveite a boca acesa para pelar os tomates. Se necessário arrede um tiquinho a panela e pegue um canto. Espete o tomate, do lado da marca do cabinho, no garfo e coloque-o sobre o fogo, a pele vai tensionar e rasgar, fica bem solta da polpa. Gire o tomate para que toda a pele possa ser retirada facilmente. Faça isso com o outro tomate.
        Esse processo é gostoso porque o tomate já fica meio assadinho. Puxe a casca com os dedos. Pique-os. Reserve.
        Quando a água do macarrão ferver, salgue-a e cozinhe o macarrão. Deixe-o bem al dente, ele ainda tem mais um tempo de forno onde continuará cozinhando. Aliás, importante que a massa seja de grano duro pra não correr o risco de ficar mole.
        Coloque o macarrão em uma tigela, coloque 2 xícaras do feijão, mais meia xícara do caldo e os temperos. Misture bem e coloque em uma travessa para ir ao forno.
        Você se lembra das migas da mussacá do Dom Quixote, da lunação de Sagitário? É o pãozinho em cubinhos, que gratina e fica marrom e crocante. Eu tentei fazer a mesma coisa com farinha de milho flocada aqui: escolhi os maiores bijus e espalhei por cima, reguei com azeite de oliva. Não ficou super tostado como imaginei, mas tenho fé. Sei que dizer “tenho fé” não pegaria bem em uma lunação de Gêmeos mas Júpiter está em Peixes em trígono com o Ascendente. Sim, temos fé.
        Sugiro então que coloquemos em uma grade mais alta, mais perto da grelha de cima e já aumentei um pouco a quantidade de caldo para que ele fique mais tempo no forno.
        
        Respira.

        Como estão os cookies? Quando eles saírem do forno a travessa canceriana entra. Acho fofura colocá-la no forno perfumado de cookie. Marte e Vênus. E tem mesmo algo de continuidade ali, quando preparar o tempero verá que vai chocolate na receita, e que assim temos um trígono entre o prato e a sobremesa. No mapa, temos o trígono de AR entre os planetas em Gêmeos e Saturno em Aquário. Temos o trígono em ÁGUA entre os planetas em Câncer e Júpiter em Peixes.
        Caçarolinha no forno, o tempo é mais livre. Dá uma liberada na mesa/bancada cozinha porque agora tem bagunça. Mas deixe à mão mais caldinho de feijão, caso seque muito lá no forno.
        Tábua com toalhas de papel, frigideira, ralador estão separados, não? 
        Deixe também no liquidificador o alho ralado, azeite, sal e limão. No abacate a gente só mexe no último minuto.
        Descasque e rale uma batata, seque nas toalhas e coloque na frigideira, com indicado na receita. Só então faça o processo com a próxima, senão periga oxidar a batata. Se você tiver duas frigideiras é melhor, ganha tempo e o primeiro hash brown não amolece até que o último esteja pronto.
        Enquantos ele(s) estão no fogo, bata o molho. 
        Sirva imediatamente.
        A travessa estará no forno, pronta para a sua hora. Sirva com garfo e colher. Cada um faz sua escolha. Garfo é gêmeos, colher é câncer.

Notas: 
[1] WILSON, Bee. Pense no garfo! RJ: Zahar. 2014 
[2] opus. cit 
[3] opus. cit
[4] GRAVES, Roberto. Os mitos gregos. RJ: Nova Fronteira. 2018 
[5] CAMPBELL, Joseph. O heroi de mil faces. SP: Cultrix. 1949 
[6] BARCELLOS, Gustavo. O banquete de Psique. Petrópolis: Vozes, 2017
        “Verificam-se ainda outros saltos, de nítida importância histórica e antropológica, que reverberam transformações na alma coletiva profunda. Ao falar num ‘processo civilizatório’ (Norbert Elias), alguns historiadores apontam o impacto do aparecimento e da adoção gradativos de novos costumes com relação à alimentação, tais como a introdução do uso de mesa e cadeiras (levantando o ato de alimentar-se do chão — hábito no Oriente e no mundo árabe), do guardanapo, das toalhas de mesa, do prato raso individual como base para a comida e, finalmente, do garfo. Tudo isso concorre para as ‘maneiras à mesa’. Os modos da mesa contam uma história. Apontam para mudanças psicológicas em relação à comida e ao rito de alimentar-se. E em relação ao mundo ao redor. 
        O garfo, em particular, traz um interesse psicológico maior. Ele foi o último utensílio a chegar na mesa, por volta do século XVI na França, com uso generalizado somente após 1750, e é o mais sofisticado. O uso do garfo conseguiu se impor de fato muito tardia e lentamente, como comenta Rudolf Trefzer, que afirma que ‘ainda não se pode esclarecer por completo onde e quando o garfo começou a ser utilizado como talher’. O que indica essa chegada, e essa demora?
        A faca, ao contrário, é mais ancestral, existindo desde o Paleolítico, acompanha-nos há muito tempo, e traz a psique da agressividade e da penetração, a psique do corte, da discriminação e da conquista, mas de um modo anímico ainda diferente do punhal, da adaga ou mesmo da espada, que carregam outros deuses e herois, outros panos de fundo arquetípicos. A faca é sacrificial, o instrumento da morte-oferenda. As adagas e as espadas são guerreiras, refletem Ares e seu amor pelas batalhas. A faca é de Apolo, o purificador, é seu instrumento. E, de acordo com as culturas, há maneiras diferentes de se entender e mesmo de utilizar as facas, uma faca para cada tarefa específica.
        A colher, por sua vez, traz acolhimento e maternalidade; traz a psique do punhado, também muito ancestral, e já era conhecida pelos antigos egípcios. ‘Na Idade Média existiam colheres de madeira e também de ouro e prata’, conta Josep Redón. De sopa, de sobremesa, de chá, de café: ela é uma medida. Traz intimidade, e é o prenúncio do vaso. Nela estão todos os nossos sonhos do côncavo. É tratada como fundamental quase sempre e, quase sempre, também não podemos imaginar a cozinha, ou mesmo pensar na comida, sem sua presença — sem a presença firme e certa de uma colher de pau. Ela é típica no sentimento misterioso da mistura e da transformação. tudo o que se mistura dentro de nós, reconhece a presença de uma colher.
        A alma do garfo, a psique que ele carrega, contudo, é mais curiosa: ele surgiu ‘para fixar e não para levar comida à boca’. Sua demora em aparecer, muito depois dos hashis orientais por exemplo, pode indicar uma resistência na alma a esse processo histórico de se separar fisicamente cada vez mais dos alimentos (anteriormente comidos saborosamente com as mãos), e de abordá-los de modo mais refinado, ou seja, de eliminar o tato como partífice do gosto — aliás, para muitas culturas, e para muita gente ainda hoje, ‘comida amassada e comida com a mão é de gosto incomparavelmente superior’, atesta Câmera Cascudo. O gosto, diga-se de passagem, sempre começou no tato: apreciar temperaturas, distinguir consistências, proporcionar, dimensionar, moldar, sentir. Pontiagudo e penetrante a seu modo, o garfo traz psique do distanciamento e da separação. É elegante, ainda que menos sedutor que as facas e seu repertório vasto e celebrado, seu brilho afiado. O garfo agarra, como quando queremos apanhar sonhos dentro de nós. Carrega consigo um processo histórico de racionalização. A faca é a paixão. O garfo é a intelectualidade.”


        
Menu-lunação Gêmeos 

Hash browns 
Molho de abacate 
Travessa de feijão branco com macarrão 
Cookies

HASH BROWNS 

Tome uma batata de aproximadamente 200g por pessoa. Rale, no ralador médio. 
Espalhe sobre várias folhas sobrepostas de papel toalha e enrole para retirar o líquido da batata. 
Se necessário enrole novamente em papel seco. 

Coloque a frigideira para esquentar em fogo médio/baixo.

Coloque a batata ralada em uma tigela e salgue. 
Na frigideira, esquente um fio de óleo ou azeite de oliva e espalhe as batatas, formando uma panqueca. Ajeite as bordas com uma espátula ou escumadeira. Também é comum tomar uma pequena porção e fazer vários de uma só batata.
Eu gosto aqui da ideia da grande — porque é mais difícil de comer — pra gente pensar as ferramentas. Garfo? Mãos? Será que precisa da faca?
Você pode enrolar e chuchar no molho de abacate. 
Ou você prefere passar o molho sobre o hash brown? Com uma faca ou uma colher?
Marque 15 minutos do temporizador mas confira o andamento. 
Vire e, mesma coisa, marque 15 minutos mas fique de olho. 

Sirva com o molho de abacate.


MOLHO DE ABACATE 
abacates 2 pequenos (300g cd) 
sal 
pimenta do reino preta 
alho 2 dentes pequenos 
limões 2 
azeite de oliva

Leve tudo ao liquidificador (ou processador) para que fique bem lisinho. Pique ou rale o alho antes, para que o sabor fique bem distribuído. Confira o tempero. 
Lembre-se de que os hash browns são bem neutros, o molho pode ficar forte.


TRAVESSA DE FEIJÃO BRANCO COM MACARRÃO 
prepare o feijão: 
Deixe de molho na véspera 
Cozinhe 
Tempere 
Guarde o caldo
Cozinhe 1 xíc de macarrão curto de grano duro. 
Deixe al dente. 
Escorra 
Adicione 2 xíc feijão branco cozido 
2 tomates grandes descascados e picados 
Adicione também o seguinte tempero:

chocolate em pó 3cc 
pimenta caiena 1cc 
gergelim 3cc 
orégano 2cc 
páprica defumada 2cc

Espalhe, fincadinhos, bijus de milho por cima (nos formatinhos remetendo ao cabelo de fogo do Curupira), regue com azeite.
Leve ao forno médio, com a grelha superior acesa, se houver.




COOKIES HARMONIA 
Não dispense as pitadas de sal!


óleo vegetal ⅓ xícara (60g) 
leite vegetal ¼ xícara (60g) 
açúcar cristal ⅓ xícara (50g) 
açúcar mascavo ⅓ de xícara + 1 cS (60g) 
extrato de baunilha 1 cc (5g) ou 1/2 de essência de baunilha (2g) 
farinha de trigo 1 + ⅓ xícara (190g) 
aveia em flocos ¼ xícara (25g) 
bicarbonato de sódio ¼ cc 
fermento em pó ¼ cc 
canela em pó 1 cc (3g) 
sal marinho 3 pitadas (3g) 
chocolate 50% picado ½ xíc (150g)

Com um fouet — ou um garfo —, misture todos bem todos os ingredientes úmidos e aguarde 3 minutos. Repita o processo duas vezes. Bater bastante, no final da tercera vez a mistura deve estar bem emulsionada e cheinha.
Adicione todos os ingredientes secos nos líquidos e misture até conseguir uma massa homogênea.
Modele bolinhas no tamanho desejado. Tente deixar todas com o mesmo tamanho. 
Leve ao freezer até congelar (15 – 30 minutos). 
Pré aqueça o forno em 180°C – 200°C, coloque papel manteiga nas formas e arrume os cookies. Deixe espaço entre eles.
O tempo de forno vai variar com o tamanho que você escolheu pros seus cookies. Os meus levaram cerca de 20 minutos.
Retire do forno e deixe esfriar um pouco, estão muito sensíveis e podem quebrar.
Transfira para uma grade e aproveite para devorar os cookies ainda mornos, ficam INCRÍVEIS!
Mas, se você for forte: aguarde até o dia seguinte, fica muito melhor!

Fiz já com o leite de arroz também do site Chubby Vegan
https://chubbyvegan.net/leite-de-arroz/ 
metade da receita dá e sobra.  
Com o resíduo fiz bolinho: juntei com temperos e farinha de mandioca daquela fininha. ficou uma delícia, super crocante :)

rótulo de cookies, pré-Dodô ainda <3


LISTA DE COMPRAS 
para três pessoas

Feira 

tomates 2 un grandes 

abacates 2 pequenos (600g) 

alho 2 dentes pequenos 

limões 2 un 

batata 600g

Secos e molhados 

toalha de papel 

óleo vegetal 

leite vegetal 60g 

açúcar cristal 50g 

açúcar mascavo 60g 

extrato ou essência de baunilha 

farinha de trigo 190g 

aveia em flocos 25g 

bicarbonato de sódio 

fermento em pó 

chocolate 50% 150g 

chocolate em pó 

macarrão curto de grano duro 

feijão branco 1 xíc 

farinha de milho biju (opcional)

especiarias: 

pimenta do reino preta 

canela em pó 

pimenta caiena 

gergelim 

orégano 

páprica defumada


[texto enviado na data da lunação para apoiadores, publicado aqui em 05/01/25]


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