Era pra ser um prato assaz nostálgico pensando em Marte em Câncer, daquela nostalgia que nos dá ânimo pra continuar lutando, aí a Lua entrou num signo de fogo e até apareceu um Sol depois de vários dias frios e nublados! A gente precisa de fogo pra esquentar essa panela, claro!
Além disso, juntando Câncer com Sagitário, lembrei de uma anotação da Astrolíricas:
Além disso, juntando Câncer com Sagitário, lembrei de uma anotação da Astrolíricas:
“'O melhor de ir é poder voltar.' O Caranguejo vai e junto com os passos, cria caminhos de histórias e saudade. Quando volta para trás, se alimenta de tudo isso que deixou.
O melhor de ir é poder voltar andando de ré.”
Vou contar pra vocês que isso acontece demais com as receitas. Aproveito que a Lua sagitariana vai até bem longe e trago um exemplo que vem do outro lado do mundo e passou por transformações que toda receita – e toda linguagem – passa. Porque está viva.
Ao mesmo tempo ela, receita, marca a gente de um jeito que parece fixa. Por exemplo o estrogonofe. Esteve em voga há algumas décadas, e tinha sempre aquele jeitinho de ser preparado e servido. Lembro que o arroz era sempre enformado numa cumbuquinha, enfeitado com uma salsinha, muito chique. A batata palha ficou indispensável. Era uma época de muito creme de leite em tudo, deixando os pratos (inclusive saladas) avelulados, ricos e até bem pesadinhos. Mas eu era criança, podia ficar fazendo a digestão taurinamente por quanto tempo fosse necessário.
No preparo, eu trouxe esse sotaque brasileiro do estrogonofe, da década de 80, 90. Que por sua vez trazia o perfume exótico da nobreza russa do séc XVII; também no caminho ganhou um sotaque e uma grafia kitsch afrancesada (como aponta o Silvio Lancellotti). E assim as receitas vão e voltam. Júpiter regente da Lua está retrógrado, e domiciliado. Fogo bom nessa panela. Todo essa essa construção de memória, dále Marte! Alguém pode observar que sim, está tudo muito lindo mas estamos sob efeito de uma lua cheia em escorpião. Bem, observem quanta acidez tem nessa receita: tem a mostarda, tem molho inglês, tem picles picadinho, os ferrõezinhos da batata palha, a história da nobreza russa do séc XVII, no creme azedo que é mostrado por Lancellotti enfatizando o caráter escorpiônico da fermentação, que também é matéria e nutrição do mangue, terreno do caranguejo:
“Quem não souber cometer, corretamente, um creme azedo, quem não ousar expor o laticínio à acidez, num desvão da cozinha, de uma noite até 24 horas, apenas falseie o seu paladar final com algumas gotas de suco de limão.“
Sim, o texto dele não é nenhum docinho, aliás. Gostaria de apontar também aquela referência sutil a Saturno - que hoje está cuidando da manutenção do seu poder em Capricórnio - logo no começo da receita:
“200g de filé mignon cortados em lascas do tamanho dos dedinhos de uma criança “
Ao mesmo tempo ela, receita, marca a gente de um jeito que parece fixa. Por exemplo o estrogonofe. Esteve em voga há algumas décadas, e tinha sempre aquele jeitinho de ser preparado e servido. Lembro que o arroz era sempre enformado numa cumbuquinha, enfeitado com uma salsinha, muito chique. A batata palha ficou indispensável. Era uma época de muito creme de leite em tudo, deixando os pratos (inclusive saladas) avelulados, ricos e até bem pesadinhos. Mas eu era criança, podia ficar fazendo a digestão taurinamente por quanto tempo fosse necessário.
No preparo, eu trouxe esse sotaque brasileiro do estrogonofe, da década de 80, 90. Que por sua vez trazia o perfume exótico da nobreza russa do séc XVII; também no caminho ganhou um sotaque e uma grafia kitsch afrancesada (como aponta o Silvio Lancellotti). E assim as receitas vão e voltam. Júpiter regente da Lua está retrógrado, e domiciliado. Fogo bom nessa panela. Todo essa essa construção de memória, dále Marte! Alguém pode observar que sim, está tudo muito lindo mas estamos sob efeito de uma lua cheia em escorpião. Bem, observem quanta acidez tem nessa receita: tem a mostarda, tem molho inglês, tem picles picadinho, os ferrõezinhos da batata palha, a história da nobreza russa do séc XVII, no creme azedo que é mostrado por Lancellotti enfatizando o caráter escorpiônico da fermentação, que também é matéria e nutrição do mangue, terreno do caranguejo:
“Quem não souber cometer, corretamente, um creme azedo, quem não ousar expor o laticínio à acidez, num desvão da cozinha, de uma noite até 24 horas, apenas falseie o seu paladar final com algumas gotas de suco de limão.“
Sim, o texto dele não é nenhum docinho, aliás. Gostaria de apontar também aquela referência sutil a Saturno - que hoje está cuidando da manutenção do seu poder em Capricórnio - logo no começo da receita:
“200g de filé mignon cortados em lascas do tamanho dos dedinhos de uma criança “
Aqui no Dodô a gente falseia o creme de leite (porque o leite é do bezerro) e o filé mignon (porque a mãe é do bezerro) mas cortamos o seitan em lascas do tamanho dos dedinhos de uma criança.
Falseamos também o brandy porque, como bem sabemos:
“Nunca dê bebida a um centauro!”
“Nunca dê bebida a um centauro!”
ferrugem do @zeldonribeiro
o texto do Lancellotti pode ser lido aqui
Comecei deixando de molho 1 xícara de amendoim em bastante água. Então escorri e liqudifiquei esse amendoim com 1 xícara de água nova. Coei.
Na panela, fiz suar um dente de alho e uma folha de louro em azeite de oliva; acrescentei então 1/2 xícara de passata de tomate, o leite de amendoim, temperei com sal, pimenta do reino, páprica picante, 2cc de molho inglês, 2cc de mostarda e deixei misturar bem. Só então acrescentei 2cS de biomassa de banana verde e 1 xíc de seitan cortando em lascas do tamanho de dedinhos de criança. (preferi deixar essa medida em volume caso alguém queira fazer com outro ingrediente, como pts, nata de soja, berinjela etc.)
Salteei em uma frigideira com óleo bem quente cogumelos Paris cortados em lâminas grossinhas e juntei ao estrogonofe. Também alguns pepinos em conserva bem batidinhos. E salsinha.
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