21 março 2019

DEGUSTAR, por Bruno Ueno

                 Esse mês o astrólogo Bruno Ueno escreveu sete textos para a Satunália, como ele mesmo explica:

 "Peço licença ao João Acuio e toda Saturnália, família e leitores, para adentrar neste espaço e fazer uso do lírico, da poética e do fluxo que percorre o saber astrológico. João denominou que escreveria “7 dias de sangue”. Confesso que quando li pela primeira vez imaginei o “sangue” como o Céu em trânsito com os astros errando por trajetórias diversas. “O Céu, com seu sangue oracular, deságua em nossos sentidos”. Tendo isso em mente, cada um dos dias trarei aqui uma leitura oracular com base na astrologia e algumas palavras sobre os sentidos da vida. “E se faço isso é por entender que a astrologia me deu outra percepção de sentir o Mundo que me rodeia”. "




Para o nosso contexto, trouxe:


“DIA 3: DEGUSTAR”

Em uma de suas aulas, o saudoso etnólogo Flávio Wiik estava problematizando a universalidade do conceito de “cultura”. E comentou que certa vez discursava com um senhor de um grupo indígena sobre o que poderia ser considerada a “cultura” daquele grupo (artes, rituais, objetos, linguagem). O senhor o interrompeu dizendo: “pare, você não está entendendo nada. Nós sabemos o que é cultura. Cultura não é isso aí que você está falando. Cultura é o que a gente come”. E pronto.

Hoje, dia de Júpiter, acordamos sob a Lua em Libra, o signo representado pela Balança. Em um dos pratos, o domicílio de Vênus, a apreciação do belo, do doce, do prazeroso, da benesse. No outro prato, a exaltação de Saturno, a restrição, o julgamento, o chumbo, o amargo. Entre um e outro, Libra é cardinal, um signo que é pautado pelo agir a partir do momento em que alguém decide colocar algo em um dos pratos de sua Balança. “Se você me joga amargor, balancearei o resultado com um pouco de açúcar”. A cultura alimentícia da Balança é a Temperança. “Uma taça de vinho a noite para cada xícara de café tomada de dia”.

Para as horas que se seguem, os pratos da Lua-Libra ficarão vazios e nada será devidamente temperado. O jejum é um período interessante. Quando nada se coloca à boca para degustação, os aromas de comida excitam rapidamente as glândulas salivares. Temos pressa nestas primeiras horas. Contudo, após um certo período, para muitos o corpo passa a se adaptar à restrição colocada. Atravessamos os momentos seguintes relativamente estabilizados. O paladar se sensibiliza progressivamente. E, assim que nos alimentamos, após longas horas de jejum, sentimos cada acorde do alimento. Valorizamos mais os acontecimentos e o que digerimos e absorvemos para nós mesmos.

Enquanto jejuamos para preparar o paladar para o dia de amanhã, próximo ao meio-dia Vênus realiza sextil a Júpiter e se afasta da quadratura com Marte. Muitas sobremesas ficam melhores após resfriarem. Intensificam os seus acordes e tornam a experiência do degustar mais embriagante. Pelo menos na cultura do nosso paladar.

A madrugada de hoje adentrará junto com a Lua-Libra na Via Combusta. Entre hoje e amanhã, o “cru” e o “cozido”. Para as horas de hoje, enquanto jejuamos, vale pré-aquecer as chamas do que se cozinhará nas horas de amanhã. Na sexta, a Lua-Libra fará aspectos com Saturno e Vênus. Pois é disso que se trata os dois atuais. “Só passei a reconhecer o valor dos doces da vida após um longo período ruminando as suas ervas amargas”.

Bruno Ueno

#setediasdesangue

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