Descobri,
por graça e obra das redes sociais, aliadas ao jornalismo caça-cliques
(para cuja construção contribuí, lá pelos fim dos anos 90 - nem tudo o
que se fez é motivo de orgulho, bem pelo contrário, por sorte esquecemos
a maior parte, até que alguém nos lembre), que hoje é o dia da pizza -
efeméride que, na hora de decidir o jantar, me veio à memória, então
resolvi lhe prestar homenagem, uma homenagem bastante singela, quase
fuleira, é bem verdade, pois, premido pelo tempo, não poderia fazer uma
massa caseira, como deus (ou seja lá que entidade que rege as pizzas)
manda, e acabei me conformando com uma massa pronta Pavioli, que para
minha supresa ainda existe, e segue tão maravilhosamente ruim quanto lá
nos anos 80, quando ainda era algo especial e as massas feitas em casa,
coisa de quem não tinha dinheiro para comprar uma massa pronta Pavioli,
ao contrário do que é hoje em dia, quando quem tem dinheiro faz tudo em
casa, de preferência planta suas próprias verduras, e quem é rico MESMO
deve até plantar o próprio trigo, embora desconfie que não com as
próprias mãos, pois essas precisam ocupar-se de outras coisas que dão
mais dinheiro; mas enfim, fiz minha pequena homenagem, não sem
interesse, claro, afinal de contas quem diz não a uma pizza?, exceto,
óbvio, os intolerantes a
glúten e lactose, mas mesmo estes não precisam
mais abrir mão da pizza graças às ofertas disponíveis no mercado, desde
que possam também dispor do dinheiro para comprar coisas sem glúten e
lactose que são não só para quem tem intolerância mas também alguns
trocados a mais, afinal de contas saúde custa caro, mas também um monte
de outras coisas como educação, transporte, moradia, enfim, essas coisas
que todo mundo precisa mas quem não tem dinheiro tem que se virar de
outro jeito, nem que seja invadindo prédios vazios e passando por baixo
da roleta, coisa que desagrada muitos, sobretudo quem nunca precisou
fazer tais coisas pelos mais variados motivos, seja por esforço ou
simplesmente por sorte, coisa que, convenientemente, é esquecida quando
se trata da própria mas bem lembrada quando se trata da alheia, afinal
de contas o que os olhos vêem o coração sente, e é muito mais fácil ver
no outro aquilo que nosso coração prefere não ver nem sentir em nós
mesmos, poupa trabalho e pensamento, coisas que na correria do dia-a-dia
custam caro e é melhor empregar naquilo que dá dinheiro, não em
devaneios inúteis que podem levar a ideias que ameaçam ideias que de tão
repetidas parecem fatos, como por exemplo que aquilo que há anos,
décadas, séculos acontece na nossa política tem alguma coisa a ver com
pizza, só porque em algum momento um bando de homens poderosos, famintos
por mais e mais poder, finalmente chegaram a um acordo para que todos
seguissem ganhando, todos aqui claro que se referindo apenas a eles,
pois para que eles sigam ganhando outros tantos, tantíssimos, têm que
seguir perdendo, mas assim são as coisas, os ânimos se exaltam, a
estrutura racha e ameaça quebrar, mas lá pelas tantas passa e eles
voltam a comemorar, certamente não com pizza, que é simples e popular
demais, mas alguma coisa mais requintada e de acordo com os paladares de
homens poderosos, talvez nem tão refinados assim, mas certamente
atentos ao valor que gastam com aquilo que comem, pois assim se sentem
ainda mais poderosos, já que podem gastar em uma refeição o que uma
pessoa gasta em um ano inteiro, e a pobre da pizza, que surgiu
provavelmente em uma família pobre de Nápoles que precisou juntar os
restos que tinha para ter algo de comer em um dia de vacas magras,
companheiras da maior parte da população mundial desde que o mundo é
mundo, ou pelo menos desde que existem gentes e vacas, e,
tragicomicamente, é graças aos puns das vacas gordas que tomam conta de
cada vez mais vastos territórios que a sobrevivência das gentes todas se
vê ameaçada, inclusive esses homens poderosos que brigam e brigam, mas
no final das contas se entendem, porque sabem que precisam de uns aos
outros para seguir lá em cima, e por isso tudo acaba em pizza - e aqui
gostaria de me fazer valer do lugar de fala da pizza, espero que sem
ofender nenhum leitor sensível, mas a pizza não fala, como não deveria
falar quem a está comendo (questão de modos), por isso psicografo, ou
pizzografo, o que ela deve querer dizer ao se ver ligada a esses acordos
entre homens poderosos e inescrupulosos, que deve ser algo como "não me
representam!", ou, se for mais engraçadinha (porém meio datada, como a
massa Pavioli), "incluam-me fora dessa!", ou apenas "não é não!", já que
seus clamores seguem não sendo ouvidos ao longo dos anos e décadas, ou,
como talvez alguma pizza mais moderada talvez poderia propor, sabendo
que tradições não se rompem assim de um dia pro outro, que pelo menos
tudo acabe em pizza de atum ou de strogonoff, porque isso nunca foi e
nunca será pizza.
por Paulo Gleich
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário