17 fevereiro 2016

Natureza Morta


Mais uma vez peguei carona no tema do desenho da semana, e não é por menos. A princípio tinha feito minha natureza morta bem quietinha, bem simples indie-folk (que mesmo assim levou horas para ficar pronta), e apesar de não estar uma maravilha, fiquei bem feliz, combina com o clima onde estou inserida, especialmente hoje que teve um momento pinheiros com nuvens fofas e tudo se encaixou.
 




Porém há alguns dias T me disse que queria ver meu desenho dessa semana, e o menu. Eu até respondi que não tinha pensado em comida, mas fiquei com a pulga atrás da orelha porque afinal de contas, é um tema incrível para um prato!
A primeira questão que me veio foi a do espaço: o espaço em natureza morta é o espaço limitado, a composição ali sujeita à vontade do pintor, ao contrario da paisagem, em que o pintor está inserido. E o prato, a louça está por sua vez dentro daquele espaço limitado; e aqui a ideia é abrir esse espaço de dentro desse prato, e tentar englobar tudo: um problema espacial delicioso!
Num espaço limitado dentro de um ateliê, a luz também pode ser controlada, assim pode-se dizer que o tempo também se torna controlável, o que já me fez pensar em conservas. Por isso gosto bem mais do termo still life; e se estou lidando com culinária, parece pertinente pensar assim. Certamente, pensar em alimento, que é perecível,  e que alimenta um corpo também perecível leva à consideração das vanitas, mas, de qualquer forma, não está tudo ligado?
E o que mais trazer pra alimentar esse menu? Aves e coelhos mortos não, obrigada. Penso em maçãs, aspargos, repolho, uvas e fico um tempo lamentando não morar em um lugar que tenha as aspargos em abundância. E penso que os alimentos retratados provavelmente eram os que o pintor tinha à mão, e decido fazer a mesma coisa – como sempre aliás.
Começo pelas uvas pelo seu simbolismo de contato com o divino e já, como numa epifania, penso em fazer um preparo clássico da minha cidade nova e como poucas vezes acontece, veio quase tudo pronto na minha cabeça: aluske de tatarka com cogumelos. O cogumelo nesse contexto se encarrega do simbolismo vanitas: é tão delicado, tão perecível, e já pertence a outro reino. Para a conserva, que já queria, resolvi confitar as uvas com tomatinhos cereja. E assim foi, praticamente sem alterações.

Para o recheio do aluske:
- lavar ½  xícara de tatarka inteira. Tatarka é trigo sarraceno.
- lavar ¼  xícara de arroz branco
- refogar uma cebola pequena bem picadinha, adicionar 3 dentes de alho picados, 10 grãos de pimenta branca e 5 de pimenta preta moídos na faca. A seguir juntar os grãos e temperar com sal. Adicionar água quente e cozinhar.
- Na hora de rechear os aluskes, adicionar bastante cebolinha picada.



- Para o aluske: retirar o talo de um repolho, cavocando com uma faquinha. Colocar para cozinhar em uma panela grande com água já fervente. Não deixar cozinhar demais.
- Escorrer e desfolhar. Com uma faquinha, cortar longitudinalmente o excesso dos talos de modo que a folha fique “plana”
- colocar o recheio e enrolar como charuto, dobrando as laterais também.

Acompanhamento 1:
- saltear em azeite de oliva tomatinhos cereja e uvas soltas. Temperar com sal.
A ideia inicial era confitar em imersão de azeite de oliva, mas acabei optando por uma versão mais econômica.

Acompanhamento 2:
- os cogumelos são simplesmente salteados em fogo alto até ficarem al dente e então temperados com sal.



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