Pela primeira vez senti, nessas
paragens, a doçura de uma refeição. De noite, Zorba acendia o fogo entre duas
pedras e cozinhava; começávamos a comer e bebericar, a conversa ia se animando
e eu compreendia, enfim, que comer é também uma função espiritual e que a
carne, o pão e o vinho são as matérias-primas das quais se faz o espírito.
Antes de comer e beber Zorba não tinha, de noite,
depois da canseira do trabalho, nenhuma disposição; seus modos eram
mal-humorados, e era preciso arrancar-lhe as palavras. Seus gestos eram lentos
e sem graça. Mas, depois de jogar carvão na máquina, como ele dizia, toda a
usina entorpecida e moída que era seu corpo se reanimava, tomava impulso e
começava a trabalhar. Seus olhos se iluminavam, sua memória renascia, cresciam
asas em seus pés e ele dançava.
- Dize-me o que fazes, do que
comes e eu te direi quem és. Há os que transformam isso em gordura e lixo,
outros em trabalho e bom humor, outros em Deus... como já ouvi dizer. Existem,
portanto, três espécies de homens. Eu não sou nem dos piores nem dos melhores.
Estou no meio. O que eu como, transformo em trabalho e bom humor. Não é muito
ruim!”
In: KAZANTZAKIS, Nikos. Zorba, o Grego. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira. 2ª edição. pag
64-65
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