– Quem é você? pergunta Daniel (que não gosta de seu nome).
– O meu nome é Icael – responde o
outro, sorrindo. – Vamos comer doce de abóbora?
– Doce de abóbora? – repete
Daniel, que está mesmo com fome.
– Ali se faz – responde Icael,
apontando para uma casinha que está plantada no meio de uma grande plantação de
abóbora.
– Alice faz? Quem é Alice? –
pergunta Daniel, meio confuso.
– Não tem Alice nenhuma –
responde Icael. – Eu disse que ali se faz, ali, naquela casa, se faz o melhor
doce de abóbora do mundo todo.
– Ah, entendi! E quem é que faz?
– Ana Groma – responde Icael. – A
melhor cozinheira dessas terras.
– Ana Groma? – repete Daniel. –
Que nome mais engraçado...
E os dois se põem a caminho da
casa, atravessando a plantação. Daniel se espanta com o tamanho das abóboras,
que são enormes, e dos mais diferentes tipos e formatos.
Daniel acha divertida aquela casa
com forma de abóbora, cheia de gomos gordos. E comenta:
– Muito legal essa casa, cheia de
gomos!
– Cada um desses gomos se chama abóbada – explica Tomenota,
espichando-se um pouquinho para fora do bolso da camisa do menino. – Uma casa
cheia de abóbadas é uma casa abobalhada.
Esse tipo de casa só existe nas plantações de abóbora, e quem mora nela é
chamado cabrobó...
Mas Daniel nem se importa com as
explicações malucas do livro. É que de dentro da casinha está vindo um cheiro
delicioso, um cheiro doce e bom de doce bom...
Quando chegam na frente da porta,
Icael dá três pancadinhas: toc... toc... toc...
A porta se abre e aparece uma
mulher sorridente e gorda, que mais parece, ela também, uma abóbora.
– Olá, Ana Groma – cumprimenta
Icael.
– Olá, meninos, Icael e Daniel!
Entrem logo, fechem a porta, venham até a cozinha, pois estou para começar uma
nova encomenda de doce!
E enquanto fala, ela sai andando,
deslizando, patinando, como se tivesse rodinhas nos pés.
– Sentem-se, sentem-se, meninos,
Icael e Daniel! A casa é sua, a casa é nossa, vamos logo começar, antes que o
tempo se esgote. Temos de preparar a encomenda, não é?
Daniel não sabe do que ela está
falando, mas não se importa.
– Querem comer um pouquinho do
doce de meia hora atrás? – pergunta Ana Groma.
Os meninos, que já se sentaram
numa mesinha redonda, fazem sim com a cabeça.
– Cá está, cá está! – diz Ana
Groma, que abriu um armário e de lá tirou um pote de porcelana (em forma de abóbora, como você adivinhou?).
Deixa ele no meio da mesinha, dá uma colher a cada menino e diz: – Comam tudo,
comam à vontade, não deixem nada ficar...
Eles obedecem na hora. Daniel
prova um pouquinho e fica encantado com aquele doce de abóbora saboroso. Nunca
provou nada igual.
Enquanto eles comem, Ana Groma
joga uma grande quantidade de abóbora cortada em cubos dentro de um enorme
caldeirão de água fervendo. Com uma colher de pau do tamanho de uma vassoura, vai
mexendo e cantando:
– Já está pra começar
outra vez a nossa óbora,
a colher vamos mexendo
nesta mágica manóbora
de fazer o melhor doce,
nosso doce de abóbora!
É de dar água na boca,
nossa língua se desdóbora
pra lamber o inteiro pote
sem deixar nenhuma sóbora
do melhor doce do mundo,
nosso doce de abóbora!
Daniel acredita nos versos da
cantiga: aquele doce é igual a nada do que ele já comeu em toda a vida.
Icael então pede:
– Ana Groma, conta aquela
historia pra gente!
– Aquela história? – pergunta a
mulher.
– Aquela mesma! – confirma Icael.
– Que história? – quer saber
Daniel.
A mulher sorri, começa a jogar
açúcar dentro do caldeirão e só depois responde:
– Que história? Só pode ser uma
história de abóbora!
E sem parar de mexer a grande
colher de pau, ela começa a contar.
in: BAGNO, Marcos. O
espelho dos nomes. São Paulo: Ática. 2006. pag 48-50
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