Caro amigo Jorge Amado, o bolo de puba que eu faço não tem receita, a bem dizer. Tomei explicação com dona Alda, mulher de seu Renato do museu, e aprendi fazendo, quebrando a cabeça até encontrar o ponto. (Não foi amando que aprendi a amar, não foi vivendo que aprendi a viver?)
Vinte bolinhos de massa puba ou mais,
conforme o tamanho que quiser. Aconselho dona Zélia a fazer grande de uma vez,
pois de bolo de puba todos gostam e pede mais. Até eles dois, tão diferentes,
só nisso combinando: doidos por bolo de puba ou carimã. Por outra coisa também?
Me deixe em paz, seu Jorge, não me arrelie nem fale nisso. Açúcar, sal, queijo
ralado, manteiga, leite de coco, o fino e o grosso, dos dois se necessita. (Me
diga o senhor, que escreve nas gazetas: por que há de precisar sempre de dois
amores, por que um só não basta ao coração da gente? As quantidades, ao gosto
da pessoa, cada um tem seu paladar, prefere mais doce ou mais salgado, não é
mesmo? A mistura bem ralinha. Forno quente.)
Esperando ter lhe atendido, seu Jorge, aqui
está a receita que nem receita é, apenas um recado. Prove do bolo que vai
junto, se gostar mande dizer. Como vão todos os seus? Aqui em casa, todos bem.
Compramos mais uma quota da farmácia, tomamos casa para o veraneio em
Itaparica, é muito chique. O mais, que o senhor sabe, naquilo mesmo, não tem
conserto quem é torto. Minhas madrugadas, nem lhe conto, seria falta de
respeito. Mas de fato e lei quem acende a barra do dia por cima do mar é esta
sua servidora, Florípedes Paiva Madureira dona Flor dos Guimarães.
(Bilhete recente de dona Flor ao romancista)
In: AMADO, Jorge. Dona Flor e seus dois maridos: história moral e
de amor; ilustrações de Floriano Teixeira. Rio de Janeiro: Record, 1975, pág 10
Nenhum comentário:
Postar um comentário