Sera
solta um suspiro. Se há uma coisa que odeia é cortar cebola, mas para as
omeletes dos dois ficarem prontas a tempo, é melhor começar a fazer isso agora.
Não dá para saber a que horas Bhima vai aparecer hoje. Pega uma cebola de
tamanho médio e, quando termina de tirar a pele translúcida, seus olhos começam
a lacrimejar. Pega a maior faca da gaveta. É melhor acabar com isso o mais
rápido possível. Anos atrás, Feroz apareceu de repente às suas costas enquanto
ela estava trabalhando na cozinha e disse:
- Meu Deus,
Sera, você corta cebola como quem está cortando uma cabeça. Que veemência!
-
Preferiria cortar cabeças a cebolas – retrucou ela. – Talvez chorasse menos.
(...)
Sera
quebra dois ovos, bate-os numa tigela, adiciona cebola, alho, coentro e uma
pitada de pimenta na mistura que chia ao tocar no óleo quente da frigideira.
Uma já foi, agora tem a outra omelete para fazer. Ela se pergunta se deveria
fazer mais duas omeletes, uma para si mesma e uma para Bhima, mas a ideia de
ter que cortar mais cebolas a detém. Talvez faça omelete de alho para as duas.
in: UMRIGAR, Thirty. A distância entre nós. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira. 2006, pag 22-23
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