"Estou tentado a citar Alexandre Dumas, não pela autoridade, mas por sua justa observação. Costumava dizer que existiam casas em que se sentia enverve, assim que nelas entrasse. Dumas tinha a sua experiência. Assim é a casa de J. F. de Almeida Prado. Ajuntemos também que dali se sai sempre acrescentado de algo novo, quer pelo aprendizado de novos pratos, quer pela excelência dos vinhos, quer pelo brilho das observações intelectuais. Observações que nascem inspiradas pelos raros xerezes que ali se bebem. Xerezes ricos, de caráter, cujos cálices se tomam ao compasso e no conselho da poesia popular em Portugal, lembrada por Antonio Batalha Reis no seu 'Roteiro do vinho português'.
O primeiro bebe-se inteiro
O segundo até o fundo
O terceiro como o primeiro
O quarto como o segundo
O quinto bebe-se todo
O sexto do mesmo modo
O sétimo bebe-se cheio
O oitavo duas vezes e meio.
Contudo, são vinhos que, no dizer de Antônio Augusto de Aguiar, 'respeitam a inteligência' de quem os bebe, e muitas vezes funcionam na frase de frei Rafael, também citado por Antônio Batalha Reis: chaves que, sem voltas, abrem o coração e soltam o pensamento. Mas nunca como nos versos populares:
O vinho é coisa santa
que sai duma cepa torta;
faz uns quebrar a cabeça
e outros errar a porta."
in: CASCUDO, Luís da Câmara. Antologia da Alimentação no Brasil. São Paulo: Global, 2008, P 117
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