"Era visto que combinava, o casalzinho miúdo. Feito um para o outro, os dois. Ele tinha a cara macha, informando sem esforço e sem querer que dava conta, ora se dava. Ela sob medida, pequetita, perninhas curtas de mandioca, o ventrezinho satisfeito debaixo do vestido, segurava a sacola, a Dircileide, a sombrinha, e escolhia jilós, entregando pra ele, o chefe, mandar pesar e pagar. Escolheu depois três pepinos e vi, quando abriram a capanga, uns embrulhos curtinhos, coisa pra trocados. Ele fez uma graça, com o dono do boteco: 'pesa aí, meio quilo bem pesado." Ela ficou olhando, os olhos sem saber que a boca tava rindo boba de ver marido tão no jeito. "Vam'," ele disse. E saíram pra chuva, pro barracão, pra comida gostosa que ela ia fazer, com angu e pimenta, por causa do jiló. O jiló não era à-toa, o jiló amargava, punha no prato uma lembrança e uma recompensa, com pimenta era quase perfeito: carne da lembrança da carne. Alface nem tomates não pensaram, só jiló forte na sólida comida deles. Café quente por cima, pé na reta pro serviço e louvado fosse Deus que não lhe faltava com pão e mulherzinha dócil e braba. Assim estava escrito na cara e no caminhado do homem.(...)"
ADÉLIA PRADO
In: JARDIM, Rachel (org). Mulheres & Mulheres. Antologia de Contos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978, pág.9
04 novembro 2010
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