24 setembro 2010

Qorpo Santo

ATO PRIMEIRO

Cena Primeira

CÁRIO: (assentado a uma mesa, provando algumas leves comidinhas) - O sábio o beija, o néscio arqueja! Por que será que isto se dá!? Eu sei: Aquele viveu em Deus, com Deus, por Deus e para Deus; este, no diabo, com o diabo, pelo diabo e para o diabo! Eu me explico. Um é observador e cumpridor da Lei que por aquele lhe foi dada, e por Nosso Senhor Jesus Cristo - acrescentada. O outro, é cruel perseguidor de seus sectários... ou daquels que fíéis a observam, respeitam, veneram. Eis porque, repito - quando Deus fala, o sábio se ri e se cala; o néscio teme e se abala. Ou, aquele se enche de prazer; este de medo vê-se tremer! Passando porém da religiao a estas cousas que agora como, não sei o que me parecem estas comidinhas. Dão-se fatos a seu respeito; uns que me encantam, outros que me admiram; alguns que me enjoam, muitos que aborrecem, diversos ou vários que me repugnam, milhares que me indignam; inúmeros para os quais não há explicação nem qualificação exta, possível... Quantas cousas me falaram hoje, ora pelo sono, ora pela forma, ora pelo gosto, ora pela espécie, ora pela cor, e tãobém pelo sabor! Vejo que (pegando em uma estrelinha de massa) ninguém deve comer estrelas, mas estrelas de carne ou de fogo! Como porém estas são de massa, é de crer que mal não me façam (Come uma. Pegando em outra, tira uma dentada, e a deixa quase pelo meio; olhando para ela:) Parece-me uma coroa! Não comerei. Guardarei (Põe no prato.) Pelo gosto (provando outra), cheiro e sabor, dir-se-á que - envenenada está. Poremos tãobém a um lado. Acho que esta bebida (bebendo um cálix de vinho), com quanto espírito, assas fraca, ou como amolecida. É cousa que tãobém não me agrada. Não beberei mais deste líquido: veremos algo mais forte, e por isso mesmo para mim - melhor. Quê! (pegando em outro pedacinho de massa) Isto é imagem de um turíbulo! Não comerei. Esta, de uma naveta, (pegando outra) tãobém não quero! Provarei esta fatia. (Corta dois ou três pedacinhos, e come.) Que tal? É sempre igual.

In: Qorpo-Santo. Teatro Completo.

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